Saturday, April 28, 2007

Grupo acha minicrocodilo no interior de SP

Grupo acha minicrocodilo no interior de SP

Fóssil pertence a animal que viveu há 90 milhões de anos, junto com os dinossauros. Descoberta feita em Marília (SP) foi anunciada em coletiva no Rio de Janeiro.

Reinaldo José Lopes

Entre os grandes, ele era um nanico. Enquanto dinossauros pescoçudos com dezenas de toneladas pisoteavam o chão do que um dia seria o interior paulista, um crocodilo de apenas 50 cm de comprimento, menor do que qualquer jacaré atual, também dava um jeito de levar a vida. O bicho, batizado de Adamantinasuchus navae, teve seus restos descritos por paleontólogos brasileiros, que o apresentaram ao público nesta terça-feira (17).

O animal foi descoberto nas obras de construção de uma represa por William Nava, coordenador do Museu de Paleontologia de Marília (SP). Nava, um dos principais caçadores de fósseis do interior paulista, conta que foi ao local da represa em busca de possíveis achados. “Sempre costuma aparecer algum fóssil nessas obras. Mas quando eu cheguei o lago da represa já estava sendo enchido.” Mesmo assim, foi possível encontrar os fósseis do A. navae, em rochas que parecem datar de 90 milhões de anos atrás.

A análise morfológica do bicho, que permitiu mostrar que se trata de uma nova espécie de crocodilo extinto, foi feita por Pedro Henrique Nobre e Ismar de Souza Carvalho, do Departamento de Geologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Graças ao achado, Nava foi homenageado com o nome navae.

“A grande peculiaridade dele é que se trata de um animal muito pequeno. Lembra muito um cachorro chihuahua”, declarou Carvalho. O crânio da criatura tem outras características curiosas: olhos muito grandes em relação ao resto da cabeça e os dentes da frente muito protuberantes.

Juntando esses dados com o tamanho reduzido, os pesquisadores estimam que o animal teria hábitos noturnos –- ótimo motivo para ter olhos grandes –- e comeria pequenos animais, talvez insetos e até carniça. Os dentes talvez facilitassem a tarefa de “fisgar” a presa. São traços muito incomuns entre os crocodilos de hoje. “Eu diria que ele é uma Carmen Miranda –- pequena, mas notável”, brinca Carvalho.

No entanto, outras interpretações sobre os hábitos do bichinho são possíveis. Como por enquanto apenas poucos indivíduos da espécie foram identificados e analisados, pode ser que os olhos avantajados sejam apenas um sinal de que se trata de animais ainda jovens – afinal, na maior parte das espécies de vertebrados, os filhotes nascem com olhões, que vão se tornando mais proporcionais ao longo do desenvolvimento.

Por outro lado, há indícios intrigantes, em alguns dentes, de um sistema de mastigação feito para triturar material duro, o que pode indicar que o bicho também seria capaz de se alimentar de plantas. Ou seja, tratava-se de um oportunista no bom sentido, versátil o suficiente para explorar as diferentes possibilidades que seu ambiente oferecia para um animal pequeno. O quadro geral sugere um bicho que, apesar de réptil, tinha hábitos relativamente parecidos com os mamíferos dessa época.

Possibilidades que, aliás, não eram das mais clementes. O interior do Brasil nessa época, o fim do Cretáceo, era uma região semi-árida com muito calor e rios intermitentes, que às vezes se enchiam em fases de chuva catastrófica. Por isso, ao contrário dos crocodilos e jacarés modernos, o Adamantinasuchus navae era um animal totalmente terrestre. Se fosse mesmo noturno, esse modo de vida o ajudaria a escapar do calor escorchante que provavelmente vigorava durante o dia e amainava à noite.

O bicho é um dos membros mais exóticos da volumosa fauna de crocodilos do interior paulista e mineiro dessa época. Esses animais parecem ocupar as mais variadas funções ecológicas, numa diversidade espantosa. Carvalho, porém, diz que é preciso tomar cuidado antes de ficar se perguntando porque diabos havia tantas espécies de crocodilo vivendo juntas. “Isso pode ser um artefato [uma impressão enganosa causada pela falta de dados]”, resume ele. Explica-se: como é difícil datar fósseis tão antigos com muita precisão, pode ser que cada espécie tenha, na verdade, vivido separada da outra por intervalos de centenas de milhares de anos. Para um observador moderno, dá a impressão de que todas foram contemporâneas.

O trabalho foi publicado na revista científica “Gondwana Research” e teve apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (Faperj) e da Prefeitura de Marília.

Fonte: http://g1.globo.com/Noticias/Ciencia/0,,MUL23146-5603-475,00.html

COMENTÁRIOS:

Crocodilos surgiram no Triássico, então nada de notícia bombástica aqui.Mas o curioso é o tamanho do bicho.Talvez seja um um grupo novo, caso contrário a descoberta não teria saído numa paper séria.

Outra coisa a ser notada é que a falta de dados mostra que não dá para alegar que existiu uma "Galápagos de crocodilos" naquela época.Esse é um problema de falta de registro fóssil.Vale lembrar que nem todo "artefato" é sinônimo de falta de dados.Por exemplo, pode-se dizer que a divergência de crocodilos e jacarés ocorreu entre 55 e 75 milhões de anos, segundo estimativas da análise de distância imunlógicas de proteínas albumina (Stearns e Hoekstra, 2003.Evolução:Uma Introdução.Atheneu Editora São Paulo), a despeito da insuficiência de dados fósseis.