Biologia Evolutiva e Filosofia
Entre as abordagens que dizem que a biologia evolutiva não é uma ciência rigorosa está argumentação que ela não é ciência genuína porque não é falsificável, não apela a leis e que faz poucas previsões baseados no modelo dedutivo-nomológico.Essas observações quase sempre deixem escapar o nome de Karl Popper.A definição de Popper sobre ciência é costumeiramente usada por criacionistas para negar o caráter científico sobre a teoria da evolução.Ela é chamada Falseacionismo e podemos esclarecê-la logo a seguir, comparando com o critério de demarcação de outros filósofos.
O que é falseacionismo?
Falseacionismo é o modo que o filósofo Karl Popper encontrou para distinguir ciência de pseudociência, e que foi posta em detalhes na sua obra A Lógica da Pesquisa Científica de 1934.
De acordo com Popper, a lógica da pesquisa científica não deveria admitir a indução como a gênese do conhecimento científico.Se uma teoria tentava inferir enunciados universais apenas de enunciados singulares, ela não era científica.Não importa quantos cisnes brancos possamos observar, isso não justifica a conclusão de que todos os cisnes são brancos.Cientistas sempre buscam generalizações e este dilema foi reconhecido desde os tempos do filósofo David Hume como “problema da indução”.A solução para este problema estaria em admitir que embora não possamos verificar se todos os cisnes são brancos, poderíamos corroborar esta hipótese criando uma hipótese falseadora que não admita um único caso de cisne não-branco encontrado.Assim, os cientistas não estariam buscando tornar suas teorias “verdadeiras” e sim fazendo estas resistirem a potenciais refutações.Para ser científica, a teoria precisa ser falseável por um enunciado de observação e não se é verificável pela observação real.As descrições do mundo por este método serviriam como explicações dos fatos observados, mas elas não seriam “explicações últimas”.Todas as teorias científicas seriam descritas como "conjecturas provisórias".A história da ciência seria essencialmente revolucionária e progrediria de forma não-cumulativa.Não seria o acúmulo de fatos que levariam ao progresso científico e sim a especulação ousada e avaliação crítica e comparativa das teorias.
Além de ser suscetível de ser falsificado por dados, uma teoria científica deve fazer testes observações e experimentos.Por mundo observável, Popper entendia como um mundo possível e não-contraditório.Uma consequência de você ter um argumento dedutivo e está fazendo uma descrição do mundo que tente se aproximar da verdade, leva a uma consequência.Você pode fazer predições, dada as condições iniciais adequadas.Você deve saber quais previsões sobre quais evidências observáveis serão consistentes e quais serão incompatíveis com a hipótese.A compatibilidade é uma condição necessária, mas não suficiente para se tornar uma hipótese científica.Todas as observações físicas são consistentes com um número infinto de conjecturas.O que distingue é o fato das predições serem específicas e/ou arriscadas.Astrólogos, por exemplo, fazem predições, mas não estão fazendo ciência.Fazendo suas interpretações e profecias suficientemente vagas, eles conseguem explicar de modo plausível, tudo aquilo que seria refutado se suas profecias tivessem sido mais precisas.Um exemplo de uma predição arriscada é uma feita pela teoria da relatividade.De acordo com ela , o tempo não é absoluto e corre mais lentamente em velocidades maiores e/ou próximo de grandes massas.A priori, poderia acontecer de relógios atômicos de alta precisão marcarem o mesmo tempo em altitudes mais elevadas do que em terra firme, e assim a teoria é falseável.
Dizer que uma teoria está falseada não é a mesma coisa de dizer que ela está falsificada.Daí, surge a necessidade de distinguirmos falseabilidade de falsificação.A falseabilidade é critério aplicável ao caráter empírico de um sistema de enunciados.Uma teoria está falseada quando os seus enunciados básicos a contradigam.Portanto, uma teoria é falseável se não estiver vazia a classe de sues falseadores potenciais.Mesmo a contradição de alguns enunciados básicos dispersos não levam a falsificação.Ocorrências particulares não suscetíveis de reprodução carecem de significado para a ciência,assim uma hipótese não permanece ou cai baseada em apenas algumas confirmações ou contradições.Assim, se eu tenho uma hipótese "todos os cisnes são brancos", um depoimento de uma pessoa da existência de um cisne preto num zoológico, dificilmente induziria a rejeitá-la como falseada.Para falseá-la , ela deve-se levar em consideração a totalidade da evidência.Essa é uma condição necessária, porém não suficiente.Ela só está falsificada, se uma hipótese falsificadora de baixo nível for proposta e corroborada.A essa hipótese , Karl Popper, chamava de hipótese falseadora.Ela deve ser empírica e cumprir os mesmos critérios da hipótese confirmadora.Ao teste que corrobora essa espécie de hipótese podemos chamar de "experiência crucial".No caso da nossa hipótese "todos os cisnes são brancos", o que seria uma experiência crucial? Com certeza, eu posso formar uma opinião através do exame de documentos ou qualquer outro fato reproduzível e intersubjetivamente comprovável.Vejam, o exemplo que demos anteriormente, o depoimento de uma pessoa, pode não não cumprir este critério.A pessoa em questão pode não saber distinguir um cisne de um animal estreitamente aparentado a este.Outro exemplo.Galileu fez a predição: "a velocidade de queda dos corpos independe da massa".Entretanto, verificamos que uma bola de chumbo de dez quilos cai um pouco mais rápido que uma de um quilo de chumbo.Essa efeito observável não é consequência da falsidade da hipótese de Galileu, mas sim por causa de uma "pertubação" nas condições iniciais, ou seja, a resistência do ar.Para realizar um experimento crucial é necessário soltar estes dois corpos na Lua, onde esta experiência seria 100% válida como hipótese falseadora.Para a epistemologia popperiana, mesmo que os enunciados básicos aceitos contradisserem uma teoria, só os tomaremos como apoio para o falseamento se eles, concomitantemente, corroborarem a hipótese falseadora.Na verdade, nunca se pode conceber uma refutação 100% concludente de uma teoria, porque é possível que os resultados experimentais não mereçam confiança e as discrepâncias são aparentes e desaparecerão com o processo do entendimento. A ciência não é infalível.
A ciência não é um processo simples de falsificação de hipóteses.Alguns dados aparentemente contrários a uma teoria pode levá-la a predizer um fato novo, até então inesperado.A teoria da descendência comum de Darwin é um exemplo disso. O fato do réptil terrestre extinto do Triássico, o Cinognatus, aparecer na América do Sul e na África e o Lystrosaurus, existir na África, Índia e Antártica poderia ser vista como uma potencial refutação da teoria da Darwin, já que não poderiam ter nadado entre os continentes.Entretanto, devido ao argumento da coincidência das estruturas geológicas nos locais dos possíveis encaixes entre os continentes, tais como a presença de formações geológicas de clima frio nos locais onde hoje imperam climas tropicais, alguns biogeógrafos do início do século XX confiaram na teoria da deriva dos continentes, formulada por Alfred Wegener de 1912, para explicar a distribuição geográfica de algumas espécies estreitamente aparentadas que viviam em diferentes continentes.Apenas na década de 60, novos dados e o mecanismo da tectônica das placas tornaram-na aceitáveis para os geólogos.Apresentar a posição de um nova teoria que explica uma anomalia, pode ser chamada de "ad hoc" se ela não pode ser verificada independentemente.Os ajustamentos por hipóteses auxiliares são completamente aceitáveis, caso sua introdução não reduza o grau de falseabilidade ou testabilidade do sistema, mas que, ao contrário, o eleve.A introdução de uma hipótese auxiliar pode ser vista como uma tentativa de construir um sistema novo.Este sistema novo deve corresponder um real avanço do conhecimento do mundo.Ou seja, para Popper, mesmo a proliferação de novas teorias pode contribuir para o crescimento do conhecimento.Esse é o caso da hipótese ad hoc para explicar a anomalia da teoria da descendência comum de Darwin.O caso de uma ad hoc insatisfatória é a criada por alguns defensores do criacionismo da terra jovem.Se hipótese for um ad hoc não testável, por exemplo "Só parece que o Universo tem muito mais de 6000 anos, mas o fato é que Deus, a 6000 anos atrás, criou o Universo parecendo que ele já era velho", o popperianismo invalida.
A maneira como se resiste a teste é chamada de corroboração.Uma teoria está "corroborada" enquanto resistir a testes.A resistência ao falseamento é uma condição necessária, porém não suficiente.Só compatibilidade não basta, não devemos considerar suficiente o mero fato da teoria não está falseada.Podemos reconhecer um grau de corroboração, quando a observação se compatibiliza com o sistema de enunciados básicos, a teoria explica os fatos observados e se parte do sistema pode ser deduzido da teoria, ou seja, se ela prediz fenômenos previamente não observados.O grau de corroboração não pode ser estabelescido através do números de casos corroboradores.O que conta é severidade dos testes pelos as hipóteses podem ser submetidas.Isso leva em conta o grau de testabilidade e a simplicidade da hipótese.A hipótese mais falseável e a hipótese mais simples (aquela que requer menor número de suposições) é suscetível de corroboração em grau maior.Resumindo, uma boa teoria científica é aquela que tenha poder preditivo,poder explanatório, parcimônia e falseabilidade.
Leis e explicações
Muitos filósofos procuraram fornecer caracterizações precisas da explicação científica, entre eles Popper, Braithwaite e Nagel. Entre a abordagem que se tornou central em todos os tratamentos do assunto, está aquela imposta por Carl G. Hempel e Paul Oppenheim (e também por Popper), chamado de modelo dedutivo-nomológico.Nela o cientista propõe uma hipótese, simplesmente apresentada como uma conjectura. Partindo dela e de premissas , são deduzidas conclusões observáveis, geradas por via dedutiva, utilizando a lógica e, frequentemente, a matemática.Uma vez que você tenha uma teoria assim, você pode predizer que um fenômeno ocorrerá dada as condições iniciais, segundo um modelo de leis universais naturais.É verdade que ambos admitiam explicações legítimas, que não correspondiam a argumentos D-N que posteriormente foram formalizados por Hempel nos modelos dedutivo-estatístico e indutivo estatístico.
A evolução é acusada de não ser uma ciência preditiva e também de não possuir leis naturais.Dado que não existem leis naturais em biologia evolutiva, como na física e na química, ela usualmente não pode fazer predições.
Todas as teorias são simplificações, você tem que negligenciar muitas coisas.Muitas variáveis estranhas interferem nas predições.Mesmo na Física, isto não é diferente.Frequentemente ouvimos falar do risco de um determinado um asteróide entrar em colisão com a Terra, e nunca que um asteróide entrará em colisão com a Terra.Há exemplos de asteróides que já passaram a distâncias da Terra bem menores que aquelas que separam a Terra da Lua.Um físico pode prever razoavelmente a futura órbita de um asteróide.Se ele prevê que um asteróide está em determinado ponto, ele com certeza acertará, ainda que com uma pequena margem de erro.É por isso que mesmo que haja a previsão que um asteróide passe a apenas 50.000 km da Terra, isso seria noticiado como um risco de colisão de um asteróide com a Terra.Até lá algumas coisas poderão "pertubar" a predição, a influência da gravitação de outros planetas, fricção implicado pelo vento solar, etc.
Vejam que a sensibilidade em sistemas físicos é relativamente pequena.Na biologia evolutiva, assim como em várias outras ciências, as coisas não funcionam assim.Os sistemas são altamente sensíveis as condições iniciais.Você usualmente não pode fazer predições para o futuro porque o acaso e a aleatoridade tem um papel mais importante em sistemas biológicos, fazendo com que não se saiba quais genótipos surgirão ou se recombinarão.Neste caso, só se pode fazer retrodições (ou "predições para o passado") utilizando o modelo de lei de cobertura.A única diferença para o modelo dedutivo-nomológico utilizado na física é o tempo para o qual se dirige.
Assim, o modelo de explicação funciona assim:
Condições Iniciais: I1, I2, ..., In.
Leis: L.
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Acontecimento explicado: E.
Deste modo, por exemplo, podemos explicar o fato que chimpanzés e gibões compartilharam um ancestral comum conosco em tempos diferentes, dado a condição inicial segundo a qual que não existem mecanismos que removam pseudogenes em vertebrados e duplicações genéticas de genes não-funcionais passam de geração em geração , e a lei, L, segundo a qual sempre que encontrarmos um pseudogene compartilhado por espécies A e B, um animal filogeneticamente intermediário também deverá compartilhá-lo na mesma posição cromossômica.E se então se você o encontra um pseudogene compartilhados por gibões e homens e, verifica que este está presente em todos os símios grandes, então você tem uma retrodição genuína cumprida.
A lei desta explicação "cobre" as condições iniciais e o acontecimento consequente, no sentido em que mostra que a sequência de acontecimentos que está por detrás de uma ocorrência específica é apenas um exemplo de um padrão geral.Daí o nome, lei de cobertura.A teoria também é falseável. Seria uma robusta falsificação se encontrássemos uma vaca compartilhando um pseudogene que possui a mesma mutação que destrói sua função, e este não existir em nossos parentes primatas.
Enfim, são muitas retrodições que a teoria pode fazer.Entre as teorias de Darwin que mais realizam estas retrodições estão aquelas que envolvem a teoria da descendência comum universal e a macroevolução.Existem muitas restrições aos mecanismos da descendência comum e assim o modelo de lei de cobertura chega a ser adequado.Consequentemente, dado as muitas predições e a grande falseabilidade da teoria, a maioria dos biólogos se referem a ela como o "fato" da evolução.
Poderia se argumentar que filogenia não é uma lei natural, mas um conceito.Obviamente, você não saber qual com certeza qual é a árvore filogenética que você consegueria descrever toda a genealogia da Terra.Mas o valor exato de uma constante física também não é sabido, e verificamos isso quando comparamos mensurações independentes dela.Entretanto, existe um nível de discrepância das mensurações que a teoria não admite.O mesmo poderia se dizer da evolução.Testes de filogenias são conduzidos em um sistema estatístico e algumas filogenias são mais confiáveis que outras.As filogenias construídas com dados independentes e com suporte estatístico devem apresentar congruência significativa.Discrepâncias elevadas nestas filogenias (calculadas pelo valor de P, que representa que representa a razão do número máximo de árvores inconsistentes sobre o número total de árvores possíveis), com certeza levariam aos biólogos desacreditarem na evolução.Na verdade, é comum até a congruência perfeita.Por exemplo, todos amniotas estão mais relacionados entre si que anfíbios do que seja por dados morfológicos e seja por dados moleculares (Gauthier et al., 1988).
Para ver uma lista de predições evolutivas disponíveis na internet :
Theobald, Douglas L. "29+ Evidences for Macroevolution: The Scientific Case for Common Descent." The Talk.Origins Archive. Vers. 2.83. 2004. 12 Jan, 2004 <http://www.talkorigins.org/faqs/comdesc/>
Don Lindsay, "Is Evolution Science?": http://www.don-lindsay-archive.org/creation/evo_science.html
O link do Theobald é o mais instrutivo, porque ele lista as 30 principais predições da macroevolução e a descendência comum, com uma seção de potencial refutação em cada.Entre elas, estão: unidade da vida, hierarquias aninhadas, convergência de independentes filogenias, formas transicionais, cronologia dos ancestrais comuns, vestigíos anatômicos, atavismos, vestígios moleculares, ontogenia e biologia do desenvolvimento, biogeografia atual, biogeografia do passado, parahomologia anatômica, parahomologia molecular, convergência anatômica, convergência molecular, função anatômica sub-ótima, função molecular sub-ótima, redundância funcional protéica, redundância funcional do DNA, transpósons, pseudogenes redundantes, retrovírus endógenos, mudança genética, mudança morfológica, mudança funcional, o estranho passado, estágios de especiação, eventos de especiação, taxas morfológicas e taxas genéticas.Se você noterem, um dos exemplos foi utilizado um deles aqui para descrever uma teoria hipotética-dedutiva.
Cada uma das teorias são falseáveis.Poderia acontecer que mamíferos tivessem as asas vestigiais como as que existem em avestruzes.Poderiam acontecer que em vez de alguns embriões de aves tivessem dentes, que embriões reptelianos tivessem mamilos.J.B.S. Haldane chegou a dizer certa vez que desacreditaria na evolução se fossem achados coelhos no pré-cambriano.A razão disso é óbvia.Todos os ancestrais inferidos de coelhos devem ser vertebrados, entre eles, répteis, anfíbíos e peixes.Todos esses animais tem esqueletos mineralizados e a aparição de cada um das classes são separados por longo tempo geológico, todos eles surgem bem depois do pré-cambriano.A única coisa que poderíamos dizer é que se esse coelho fosse achado, ele não teria o último ancestral comum dos coelhos atuais.Justificar através da convergência evolutiva não adiantaria, porque isso autorizaria a dizer o mesmo todos os outros coelhos, o que seria um absurdo para a teoria.Documentos fósseis revelam incontestavelmente a cronologia da aparição de grandes grupos com esqueletos mineralizados na era geológica certa.Assim, o mesmo raciocínio vale para rejeitar a evolução por causa de hominídeos no Jurássicos, répteis no Siluriano,etc.
Criacionistas se referem a Popper por ter dito que o Darwinismo era "um programa de pesquisa metafísica - um possível sistema de referência para teorias científicas comprováveis.”A questão é que mesmo que na época em que ele se refere como não-testável a teoria da seleção natural, e não a evolução como um todo.
Ainda assim, Popper reviu sua posição sobre a não-testabilidade da seleção natural em 1980, em correspondência a revista New Scientist.Entretanto, antes disso, ele já admitia isso:
"Todas as teorias científicas são conjecturas, mesmo aqueles que passaram com sucesso por muitos testes severos e variados. A sustentação mendeliana do Darwinismo moderno tem sido bem testado, assim como a teoria da evolução a qual diz que toda a vida terrestre desenvolveu-se de uns poucos organismos celulares primitivos, possivelmente de até mesmo um único organismo" (Popper,1978).
Vejam que Popper detestava a palavra "fato" em ciência e por isso, ele se referia apenas como "bem testada" mesmo uma teoria que passou por severos testes. Outros filósofos da ciência, como Michael Ruse, não vê problema em chamar a evolução de "fato".Mas na definição de fato científico que certa vez Gould postulou, segundo a qual não é uma “certeza absoluta”, mas simplesmente uma teoria que tem sido “confirmada em tal grau que seria perverso reter o consentimento provisório” (Gould,1981).Quanto ao poder explanatório e a falseabilidade da seleção natural, esse é um caso a parte, e a argumentação de Popper será discutido mais adiante.
Ainda assim, o modelo dedutivo-nomológico não é sofisticado o suficiente para extrair toda a informação de uma explicação científica.Muitas explicações científicas, perfeitamente aceitas, são indutivas.Isso é verdadeiro porque a grande complexidade dos fatores envolvidos na determinação de um único acontecimento tornam algumas explicações apenas aproximativas.As leis físicas explicam o clima em princípio, mas muitas vezes falta informação para explicar através delas porque uma tempestade ocorreu.
Se nos limitarmos ao critério de ciência a aquilo que é explicado exclusivamente através de leis, então estamos seguindo o argumento de alguns filósofos segundo o qual o que é verdadeiro para Física é o mesmo para todas as outras ciências naturais.Logo, nem todas as explicações da biologia evolutiva seriam científicas.Essa visão postula que uma explicação admissível de qualquer fato deve ser esperado em virtude (ou seja a explicação deve constituir um argumento D-N).Este argumento, porém, tem uma falha grave e foi apontado por um número razoável de filósofos.Alguns fenômenos chamados de "complexos" como estados mentais conscientes e intencionais e os aspectos funcionais dos traços nos organismos não são sofisticados e adequados para extrair toda a explicação científica.Como aspectos funcionais tem papel legítimo, argumentos não podem ser dos tipos endossados por essa visão canônica (Salmon,1990.p.31).Se formos por este lado que postula que explicação científica só pode ser feita através de modelo dedutivo-nomológico, dedutivo-estatístico e indutivo estatístico, a biologia funcional e a psicologia também não seriam ciências empíricas.Por outro lado, se observa que qualquer explicação científica que tem um aspecto narrativo, e tem o poder de gerar uma representação crível do assunto que é seu objeto, leva a um tipo particular de explanação do fenômeno (Emmeche,1997). Na biologia evolutiva, por exemplo, explicações ordinariamente dizem a respeito de narrativas históricas.
Um exemplo de uma narrativa histórica como explanação científica bem conhecida é aquela sobre a extinção dos dinossauros.Mayr observou isso em seu último livro Biologia, Ciência Única (2005.p.48,49):
"Uma primeira narrativa explicativa sugeria que eles haviam sido vítimas de uma epidemia particularmente virulenta, contra a qual não puderam adquirir imunidade.Uma boa quantidade de objeções sérias no entanto, foi levantada contra este cenário, que foi substituída por uma nova proposta de acordo com a qual a extinção foi causada por uma catástrofe climática, e essa hipótese também teve de ser abandonada.Quando, porém, o físico Walter Alvarez postulou que a extinção dos dinossauros tinha sido causada pelas consequências do impacto de um asteróide na Terra, todas as observações se encaixavam nesse novo cenário.A descoberta da cratera de impacto de Yucatán deu ainda mais força a teoria de Alvarez.Nenhuma observação subsequente entrou em conflito com essa teoria."
Vejam que o cientista também começa com uma conjectura e testa exaustivamente a sua validade, com a diferença que nas ciências históricas o cientista constrói uma narrativa histórica.Neste caso, a representação é mostrada por mecanismos lógicos.Ele tanto pode ser uma dedução, como uma indução.
E qual seria o papel das leis em ciências biológicas?Vejamos:
“Em biologia também há regularidades, mas vários autores questionam severamente se elas são o mesmo que as leis naturais das ciências físicas (...) Leis certamente desenvolvem um papel, ainda que pequeno, na construção de teorias em biologia, a razão principal dessa menor importância talvez seja o papel do acaso e da aleatoriedade em sistemas biológicos (...) Devido à natureza probabilística da maioria generalizações em biologia evolutiva, é impossível aplicar o método da falsificação de Popper para o teste de teorias, porque o caso particular de uma aparente refutação pode não ser mais que uma exceção como ocorre em biologia” (Mayr,2005.p.43,44).
De acordo com Mayr muitas coisas em biologia não se apoiam em leis, mas em conceitos: seleção sexual, dominância do macho, biopopulação, sucesso reprodutivo,adaptação, função,etc.Estaria Mayr negando que a biologia cumpra o critério requerido por muitos para ser uma ciência empírica?Bem, isso é o que vários sites criacionistas e antievolucionistas na internet brandem.Isso seria verdade se não fosse essa declaração nesse mesmo livro:
“Admito que alguns desses conceitos, com um pouco de esforço, talvez possam ser convertido em pseudoleis, mas não há dúvida que tais ‘leis’ são algo muito diverso das leis naturais newtonianas”(p.109).
Ou seja, segundo Mayr, as regularidades em biologia existem, mas elas não são chamadas de leis naturais, porque não se relacionam com os aspectos básicos da matéria como as leis em física e química.A existência de pseudoleis seria um passo para se utilizar retrodições em biologia evolutiva, coisa que foi feita aqui, e também nos dois links dados anteriormente.Claro que grande parte da biologia evolutiva (talvez a maior parte) necessita do poder narrativo para capturar tudo de importante sobre explicações científicas, mas o mesmo se poderia dizer da biologia funcional, da psicologia, da cosmologia e da geologia.
A filosofia das ciências físicas não é uma generalização sobre como devem ser todas as ciências naturais.Quem diz que a biologia evolutiva não é ciência porque não é como Física, está negando a autonomia da biologia em relação as outras ciências naturais.Mas isso não é uma atitude racional porque quatro conceitos da filosofia das ciências físicas não vale para esta ciência: essencialismo, determinismo, reducionismo e leis naturais universais.O descarte desses conceitos inapropriados foi o primeiro passo para o estabelescimento de uma sólida filosofia da biologia (Mayr,2005.p.44).Se as ciências biológicas dão resultados práticos (incluindo aí a evolução, e isso será demonstrado adiante) mesmo sua metodologia dispensando o falseacionismo em várias situações, então não faz sentido postular o argumento "se a evolução não é como Popper (ou Hempel) disse, então não é ciência".
A seleção natural é tautologia?
Entre as teorias de Darwin, a que mais gera polêmica é a seleção natural.Uma das argumentações de seus críticos diz que a seleção natural é uma tautologia já que segundo ela os mais aptos são aqueles que sobrevivem e os que sobrevivem são os mais aptos.Outros argumentam que a seleção natural não é uma tautologia, mas que ela quase não tem poder explanatório.Dentre os críticos que utilizam a última argumentação está Karl Popper.
Entretanto, as duas afirmações se baseiam num equívoco em relação a teoria.Evolucionistas não dizem que "os sobreviventes são os mais aptos" ou "os organismos que deixam mais descendência, deixam mais descendência".Para darwinistas, os que deixam mais descendência são aqueles que possuem um fenótipo que apresenta variação quanto ao sucesso reprodutivo e superioridade funcional em relação a outros organismos em determinado contexto.Isto não é tautologia.Poder-se-ia existir o caso onde os organismos possuírem exatamente o mesmo número de descendentes.Poderia existir uma propriedade estatística em que organismos que possuíssem determinadas adaptações não fossem esperados sobreviver mais em relação aqueles que não possuem.Poderia acontecer que numa população de insetos que se alimenta com inseticida, a frequência gênica de um organismo com novos genes envolvidos na quebra de ingredientes de pesticidas não aumentasse.Mas tudo isso é negado pela seleção natural.
Uma versão sofisticada desse argumento é de Karl Popper.Que diz que em todas as situações em que as espécies existem, isso é compatível com o darwinismo.Se definimos adaptação como aquilo que é necessário para um organismo sobreviver em um ambiente dado, então temos um problema.Porque se essas espécies não fossem adaptadas, elas não existiriam.Visto que nada é rejeitado, então o poder explanatório é exíguo, porque tudo é levado em conta.Em outras palavras, a seleção natural explicaria todas as observações biológicas facilmente com poucos dados testáveis, sendo uma espécie de "quase tautologia".
Este argumento possui falhas, e chegou a ser criticado (ver:Stamos, 1996).É claro que se descrevêssemos a seleção natural como Popper, seria pensar circularmente, e se aptidão é definida pela sobrevivência, então temos um argumento vazio.Mas a ação da seleção depende de muitos mecanismos que conectam a variação quanto ao sucesso reprodutivo à variação nos genes e nas características.
A adaptação não é definida meramente de acordo com o que sobrevive, a despeito do que Popper pensou.É necessário uma história causal para que a adaptação faça sentido.Uma idéia que ajuda a esclarecer isso é que se existem dois irmãos gêmeos, eles são igualmente adaptados, mas não há garantia que eles irão produzir o mesmo número de descendentes (Wilkins, 2006).Por exemplo, se existem dois peixes gêmeos que possuem uma bolsa respiratória na cavidade interna da boca, o quanto essa adaptação irá contribuir para o sucesso reprodutivo irá diferir, se um se mudar para um ambiente mal-oxigenado e se o outro permancer num rio onde ele não precise constantemente levantar a cabeça para respirar.Outro exemplo.Se não há evidência paleoambiental que alguma linhagem de peixes viveu em ambientes mal-oxigenados ou que costumava a se arrastar em direção a outro reservatório de água, então o pulmão dos vertebrados não poderia ser um traço explicado pela seleção natural.
Além disso, se não há hereditariedade de uma característica, não há mudanças evolutivas, mesmo que haja variação quanto ao sucesso reprodutivo.Isso porque as diferenças de performance exibidas pelos pais devem ser refletidas nos descendentes.Isso é válido até para aquelas características definidas por vários genes e nenhum dos alelos envolvidos possui um efeito forte o suficiente para criar um fenótipo facilmente reconhecível, como tamanho corpóreo , velocidade de corrida, número de cerdas abdominais de uma mosca, taxa de produção de leite, etc.Nesses casos, a parte da variação que responde a seleção é chamada herdabilidade e é investigada pela genética quantitativa.
A argumento que a seleção não rejeita muita coisa também não procede.Ela proíbe animais sendo criados instantaneamente ou sendo estabelescidos sem espécies ancestrais.Isso seria muito compatível com o Criacionismo Científico e o Design Inteligente.Para os que acreditam na idéia do desígnio inteligente também seria muito conveniente que os traços complexos de alguns organismos aparecessem abruptamente, mas não vemos esses e outros "milagres".
A seleção rejeita que qualquer organismo que possua determinado caráter seja ou tivesse sido ineficiente em relação aos seus competidores.Por exemplo, o altruísmo puro e desinteressado existente em alguns humanos (como os doadores de sangue) não poderia existir entre animais.Altruístas iriam desaparecer de uma população já que os não-altruístas ganhariam os benefícios, mas não pagariam os custos desses atos altruístas.Mas no mundo animal só existem pactos mutuamente benéficos (o sacrifício é recompensador porque há retribuição) e/ou "altruísmo" a indivíduos que carregam genes parecidos (que representa "egoísmo ético").
Também existem mudanças impossíveis de acordo com a ontogenia e da biologia molecular e elas também são impossíveis para a seleção natural.Restrições de desenvolvimento explicam porque o comprimento dos tubos que conectam os testículos do pênis de mamíferos não poderiam ser menores e mais funcionais.Nos répteis, os testículos se localizam numa cavidade corpórea próxima aos rins.Já que o esperma dos maíferos se desenvolve melhor em temperaturas mais baixas, houve deslocamento dos testículos para o escroto.Assim, o vaso deferente dos mamíferos enrola-se no ureter como uma mangueira em uma árvore,porque eles herdaram a estrutura morfológica e de desenvolvimento dos répteis.Outro exemplo é que seria muito conveniente para vertebrados se os nervos e vasos sanguíneos de seus olhos não se encontrassem entre as células fotossensitivas e a fonte de luz, já que é um desenho que obscurece a passagem de fótons para as células receptoras.Mas como seus ancestrais tinham olhos primitivos em forma de cálice apenas para detectar luz (e não para a resolução fina de imagens),seu mecanismo de desenvolvimento evoluiu de tal forma que ele não poderia permitir que o olho fosse modificado sem a destruição das formas intermediárias, necessárias ao processo de formação de um olho com um desenho mais racional (Stearns & Hoekstra,2003.p.27). Morcegos não tem asas que brotam das costas porque existem processos de desenvolvimento embrionário conhecidos capazes de fazer falanges de dedos crescerem ou surgirem teias de peles entre os dedos, mas não de brotar pedaços de ossos das costas.Proteínas que executam funções mais recentemente evoluídas obrigatoriamente devem ter similaridades estatisticamente significativas com as proteínas que executam funções principais.Além disso, biólogos observam as taxas genéticas em estudos comparativos bioquímicos e as taxas morfológicas nos registros fósseis, sendo as últimas são menores que as observadas nos experimentos de seleção artificial e na maioria das vezes que a de eventos de colonização .Nem as taxas genéticas*, nem as taxas morfológicas observadas são incompatíveis com o gradualismo darwiniano, e consequentemente com a seleção natural(ver o artigo de Theobald citado anteriormente).
Para os filósofos da ciência, o conceito de poder preditivo é estreitamente próximo a falseabilidade.Mas é questionável que a mesma relação existe entre predição e explicação.Notem que esses falsificatórios da seleção natural são derivados de predições que não tem muito a nos dizer sobre os detalhes da evolução adaptativa.Não se pode exigir que o seu poder de explicar esteja vinculado ao poder de predizer.O poder explanatório da seleção natural não advém de predições generalizadas e sim de seu poder descritivo e narratório.São previsões probabilísticas, algo que envolve múltiplas evidências comparadas e a construção narrativa de um cenário baseado em suas consequências.Vimos anteriormente que usualmente não se pode fazer predições generalizadas porque as "leis" em biologia usualmente possui numerosas exceções , seja devido a aleatoriedade ou devido a existência de um número grande de eventos únicos em biologia.Essa teoria compartilha um elemento de imprevisibilidade com a meteorologia, onde pequenas diferenças nas condições inicais alteram o resultado final substancialmente.
Apesar disso, a explicação da adaptação vai muito além de postular a "sobrevivência dos mais aptos".Como a evolução adaptativa é identificada?Existem três métodos (Ridley,2006,p.298).O primeiro consiste em alterar experimentalmente a forma de um órgão.Isto inclui a documentação da variação do sucesso reprodutivo dos pais e de seus descendentes por diversas gerações.A segundo consiste em comparar a forma prevista de um órgão com aquela encontrada na natureza.Como pode se fazer uma previsão testável assim?Constrói-se um modelo baseado em engenharia reversa.Por exemplo, utiliza-se a hidrodinâmica para testar qual seria a forma ideal dos peixes e a engenharia civil para saber informação sobre a adequação da espessura de uma concha.O terceiro método envolve a avaliação comparativa das diferentes formas de órgãos em diferentes espécies.A observação de padrões de evolução convergente é um exemplo disso e a ausência de folhas é considerada uma adaptação as condições xéricas por causa desse método.
Vejam que não é possível descrever uma lei geral explicativa sobre a conexão da seleção natural e as adaptações.Não existe uma hipótese sobre as adaptações e sim "a" hipótese da adaptação.O filósofo Michael Scriven analisou certa vez que uma das contribuições da teoria evolutiva para a filosofia foi a demonstração da independência entre predição e explicação (Mayr,1988.p.31,32).Fala-se em "contribuição" porque um reconhecimento como esse beneficia outras discplinas que dependem do poder descritivo e narratório.
Então, o que seria algo que se encaixaria na crítica de Popper? Talvez se alguém dissesse, por exemplo, que mais de 95% das espécies que já viveram neste planeta se extiguiram devido a variações ambientais, como se a sobrevivência não fosse algo a ser explicado.Esse tipo de argumentação não se vê entre biólogos evolutivos.É por esse e outros motivos que darwinistas não argumentam meramente que "organismos que deixam mais descendência, deixam mais descendência" como ele imaginou.Ele citou R.A. Fisher, J.B.S. Haldane e George Simpson como autores que já argumentaram com raciocínios como esse, mas onde está o trecho das declarações que mostram isso?
Para finalizar a crítica a esse argumento, é bom ressaltar que a sobrevivência só é importante se contribuir para o sucesso reprodutivo.Há casos onde a sobrevivência diferencial tem papel secundário, porque existem organismos que vivem pouco e deixam muitos descendentes e organismos que vivem muito e deixam poucos descendentes.Neste caso,a adaptação do macho pode ser uma escolha da fêmea, como a existência de ornamentos caprichosos ou a aparência de carregar poucos parasistas.
Recentemente, houve ataques no conceito da explicação adaptativa por alguns biólogos evolutivos.Não o velho argumento criacionista de que a seleção natural nunca deveria ser imaginada como causa suficiente, mas apenas para aqueles casos onde a informação histórica é insuficiente para confirmar a hipótese de adaptação.Gould e Lewontin identificaram aquilo que eles chamaram de "programa adaptacionista", a pesquisa que presume que todas as características são adaptativas, que elas são quase ótimas e que as diferenças entre as espécies são, invariavelmente, adaptações das espécies a fatores seletivos diferentes. Entretanto, como já afirmou George Williams em 1966, "a adaptação é um conceito especial e oneroso, que deve ser empregado apenas quando necessário".Infelizmente, alguns autores propuseram que nossos lábios serviam como um sinal sexual devido a semelhança com os lábios da vulva ou que as mulheres crregavam os bebês no braço esquerdo porque as crianças são acalmadas com as batidas do coração.Isso foi chamado por Lewontin de "Darwinismo idílico" ou "caricatura do darwinismo".Muitas características podem não se fixar por seleção.Hoje se tem a evidência que a deriva genética teve uma importância cada vez mais maior.Por isso, quando os biólogos explicam o aparecimento de características vestigiais, levam em conta tanto hipóteses selecionistas quanto as que não são.Algumas características não existem por causa de sua apropriação para sua ecologia, mas porque a diferença é uma consequência das diferenças alélicas que se desenvolveram por outras razões seletivas ou pela deriva genética.Além disso, restrições de desenvolvimento explicam porque um pégaso nunca evoluiu, e em outros casos algumas restrições se devem exclusivamente as leis físicas e químicas.A fim de fazer uma boa explicação científica, é necessário informação da filogenia das espécies, da distribuição ambiental, etc.
Gould e Lewontin fizeram bem ao chamar a atenção ao problema do programa adaptacionista, mas muitos autores destacaram que suas críticas só valiam para o "adaptacionismo ingênuo", já que o Darwinismo moderno não é pan-adaptacionista.É óbvio que se uma pesquisa fracassa em confirmar uma hipótese de adaptação, não é razoável insistir que o caráter tem uma função a ser descoberta, já que isso desconsideraria hipóteses alternativas que iluminam outros aspectos importantes da evolução (Futuyma,1992.p.272).Ainda assim, muitas explicações alternativas (evolução neutra, pleiotropia, etc.) podem ter sua importância minimizada, sobretudo em caracteres complexos, onde a engenharia reversa dos traços e a capacidade de gerar cenários plausíveis seriam suficientes como explicação.Afinal ,a complexidade requer um princípio organizador como a seleção e isto não está ao alcance das explicações alternativas.Muitas vezes identificar a adaptação por esse critério não é possível.É aí que os biólogos podem adotar explicações baseados em métodos comparativos. Gould e Lewontin não negam que a seleção natural foi o principal mecanismo de mudança evolutiva de uma estrutura complexa como o olho ou asa.A diferença, portanto, estaria quando referíssemos a evolução morfológica num contexto bem mais amplo.Ambos acreditam que a teoria neutra de Kimura é uma rival da seleção natural na explicação da evolução morfológica como um todo, embora isso não seja levado a sério pela maioria dos biólogos (Dennett,1996).
Quem usar esta crítica de Popper contra a seleção natural deve ter muito cuidado se sua alternativa científica for que a adaptação requer um agente criativo por trás dela.Popper disse que o teísmo como explicação para a adaptação, " é pior que uma aberta admissão de fracasso,por criar a impressão que a explicação última foi alcançada"(Popper,1976.p.172).Isso é válido, não importa se você chame o criador de Jeová, Alá, extraterrestre ou de designer inteligente.Se você afirma que o criacionismo pode ser falsificado se for encontrado um mecanismo natural que esclarecça todos os detalhes da evolução biológica, então você provavelmente está fazendo confusão sobre o conceito falseabilidade.Esse exemplo não é uma falsificação e sim uma explicação melhor que a do desígnio para a pessoa que acredita na criação ou no projeto inteligente.Para Popper, se pode provar falsificações, mas não teorias científicas.Como você pode apresentar "conjectura provisória" (modo como o filósofo austríaco chamava uma teoria científica) como provas falsificadoras?Em contrapartida, a falsificação popperiana é uma prova indireta através do Modus Tollen:
Se P, então Q------->Q é falso------->Então, P é falso.
Desde os tempos de Hume, se sabe que a teologia da lacuna é, na melhor das hipóteses, um argumento indutivo, já que não se pode distinguir o projetado do não-projetado assim.Ela também cria uma "explicação última", porque os traços dos organismos simplesmentemente são explicados de acordo com o argumento que as coisas são “como elas são”.Na verdade, é difícil até encontrar um bom argumento que mostre que esse não é um raciocínio tautológico.Algo que supostamente não é sabido ocorrer por hipóteses naturais conhecidas é um aspecto postulado como aparência de planejamento e depois usada como evidência de planejamento, além de está levando em conta a suposição que todas as causas naturais são sabidas.
Os cientistas também devem ter cuidado para não fazer mal uso das idéias de Popper para atacar a teoria da seleção natural.O paleontólogo Collin Patterson foi um exemplo que retrata isso.Uma vez se refletindo sobre a seleção natural e sobre o critério de demarcação de Popper declarou que:
“Nós primeiro devemos perguntar se a teoria da evolução pela seleção natural é científica ou pseudocientífica... Tomando-se a primeira parte da teoria, de que a evolução aconteceu, ela afirma que a história da vida é um processo único de divisão das espécies e progressão. Este processo deve ser único e irrepetível, como a história da Inglaterra. Esta parte da teoria, portanto, é uma teoria histórica, sobre eventos únicos, e eventos únicos, por definição, não fazem parte da ciência, pois eles são irrepetíveis e, portanto, não suscetíveis a teste”(Patterson, 1978).
Entretanto, Popper respondeu na New Scientist a Patterson (ainda que indiretamente) que a questão relevante não é se a teoria está impregnada de eventos únicos:
" (...)algumas pessoas acham que eu denigro o caráter científico das ciências históricas, tal como a paleontologia ou a história da vida na Terra (...)Isto é um equívoco, e eu desejo aqui afirmar que estas e outras ciências históricas têm caráter científico em minha opinião: suas hipóteses podem em muitos casos serem testadas. Parece que é como se algumas pessoas achassem que as ciências históricas são intestáveis porque descrevem eventos únicos.Entretanto, a descrição de eventos únicos pode muito frequentemente ser testada derivando delas predições testáveis ou retrodições" (Popper,2000).
Duas perguntas poderiam ser feitas sobre a seleção natural.A primeira é: "ela poderia explicar a evolução de órgãos complexos?".Apesar de não ser possível reconstruir a evolução de órgãos complexos (são situações em que as estruturas foram mudadas extensivamente desde sua origem), pode-se mostrar uma história causal para que a adaptação faça sentido (capacidade de gerar cenários plausíveis e utilizar engenharia reversa) e cumprir uma exigência de Darwin, segundo a qual é obrigação de um evolucionista mostrar que um órgão complexo poderia, pelo menos em princípio, ter evoluído ao longo de muitos passos pequenos.Se de todas as trilhões de maneiras de pôr juntas as partes de um corpo, apenas uma minoria infinitesimal iria viver, certamente existem muito mais maneiras de estar morto do que vivo! Dado que muitos filósofos empiristas negam a possibilidade de verificação de princípios científicos (exigindo apenas a falsificabilidade como demarcação da base empírica), quando um biólogo consegue ligar as ilhas de funcionalidade de um órgão complexo através de uma explicação baseada na observação de morfologia comparativa e os mecanismos que conectam variação quanto ao sucesso reprodutivo aos genes e características, então temos uma explicação científica genuína.A última pergunta sobre a seleção natural seria: "ela poderia explicar todas as adaptações?"Só se pode demonstrar negativamente essa possibilidade, mas não positivamente, já que há casos de caracteres biológicos não inteiramente explicados.Pode até existir o caso de um órgão complexo não ter uma sequência inferida de intermediários muito plausível ou sustentado por uma investigação cuidadosa.Mas apenas se existir o caso onde não é possível imaginar como a estrutura precursora tivesse sido funcional,é onde teríamos o caso onde a teoria ruiria por completo, segundo o próprio Darwin.Mas se isto não ocorre, podemos dizer que não existe uma adaptação que não poderia ter sido produzido pela seleção natural.
*Nota:O dilema de Haldane é constantemente citado como um "problema genético" para evolução pela seleção natural.Entretanto, o próprio Haldane admitiu que sua tese necessitava de uma drástica revisão e isso, de fato, foi feito por vários biólogos evolutivos competentes.Para maiores informações, ver meu artigo "Introdução a Evolução Biológica"
Lakatos e o falseacionismo sofisticado
Um argumento comum diz que a evolução não pode ser científica porque não pode ser falsificada.Isso é fácil de ser demonstrado falso e foi isso que esse artigo tentou demonstrar até aqui.Esse critério de base empírica baseada no popperianismo não ressaltaria que toda a evolução "deva ser provada", mas apenas que todas as teorias são potencialmente rejeitáveis, e isso vale até mesmo para a seleção natural que muitos imaginam ser uma tese que "permite tudo".
Outro argumento diz que a evolução não pode ser falsificada, mas não por causa de sua anti-cientificidade, mas por causa da tese de Duhem-Quine. O princípio da falsificação de Popper foi enfraquecido pela observação (atribuída a Duhem e a Quine) que toda a hipótese pode ser salva do falsificação adotando uma hipótese auxiliar. Por exemplo, discute-se às vezes que muitas teorias evolutivas podem escapar da falsificação por este método.Entretanto, se é assim, isso valeria para todas as teorias científicas, não só para a evolução.Mas será mesmo que não existe nenhum método para fugir das evasivas científicas?Será mesmo que é possível ad hocs serem usadas indiscriminadamente sem que ninguém perceba?
Para responder as perguntas do parágrafo anterior, falemos sobre a tese de Duhem-Quine.Entre as versões de interpretação da tese ,existe a interpretação forte (a qual Quine pareceu está mais próximo)e a interpretação fraca (a qual é a única que Duhem parece ter conservado).A versão forte é incompatível com todas as formas de falseacionismo metodológico.A interpretação fraca apenas afirma a possibilidade de modelar a ciência de maneiras muito diferentes e a impossibilidade de atingir um alvo teórico rigorosamente especificado.Como uma experiência sozinha não pode condenar sozinha uma teoria isolada, Duhem postula que para esta "condenação" ocorra é necessário um pouco de "sagacidade" e bom instinto metafísico.Esta interpretação parece ser a mais adequada.
O que está em questão não é se uma teoria ou programa de pesquisa pode ser considerada imediatamente falso ou verdadeiro e sim se ele está há muito tempo sem revisão.A evolução realmente vem sendo revisada, e até falsificada num sentido ordinário, desde que Darwin publicou A Origem das Espécies. Alguns argumentam que isso não foi suficiente para torná-la adequada.Outros acreditam que isto realmente não ocorreu.As pessoas que vivem exigindo poderosas revisões, devem tomar cuidado com aquilo que Imre Lakatos chamava de "falseacionismo ingênuo" ou ainda "falseacionismo dogmático".
O falseacionismo ingênuo existe em oposição ao falseacionismo metodológico, ou ainda o falseacionismo sofisticado.O falseacionista ingênuo acredita que a ciência só cresce através de poderosos e repetidos derrubamentos experimentais de teorias e que novas teorias rivais tem que ser propostas antes de tais "derrubamentos",que fariam as teorias aceitas serem refutadas durante a crise kuhniana de confiança.Ressalta a "urgência de substituir uma hipótese falseada por outra melhor".Também crê que a aceitação de uma teoria dependa apenas dos resultados dos experimentos, e se a contradisserem, ela deve ser rejeitada.Uma hipótese falseadora de baixo nível bem corroborada é suficiente para isso.Também levam as hipóteses auxiliares um isolamento lógico, em que ela se converta num alvo fácil para o ataque de experimentos de teste.Por fim, acha que é possível para uma teoria está conclusivamente falseada, e que uma teoria ou é falseável ou não é.
O falsecionismo sofisticado não acredita na obrigatoriedade que a transferência progressiva de problemas sejam entremeadas por refutações.A ciência pode crescer sem elas.Prefere interpretar que as hipóteses auxiliares podem levar a fatos novos e inesperados e terminar como uma transferência de problemas empiricamente progressiva.Não ressalta a necessidade de "substituir uma hipótese falseada por outra melhor", porque não acredita que algo possa está conclusivamente falseado, e propõe apenas subsistituir qualquer hipótese por outra melhor. O falsecionista sofisticado não acredita que uma experiência, enunciado de observação ou hipótese falseadora de baixo nível bem corroborada podem sozinha levar ao falseamento.Porque antes de se falsear uma hipótese, temos uma outra na manga do paletó.Pode ainda acrescentar e citar o "caráter histórico" do falseamento de Lakatos.Que diz que o falseamento não é simples relação entre teoria e base empírica, mas uma sofisticada relação múltipla de de teorias concorrentes, base empírica "original" e crescimento empírico resultante da competição.Para uma teoria T' falsear T: a primeira tem que ter um excesso de conteúdo empírico corroborado, predizendo fatos improváveis a luz da segunda; explica o conteúdo não-refutado se dua antecessora em seu próprio conteúdo, e corroborando parte deste conteúdo.
A teoria de Einstein não é melhor que a teoria de Newton, porque a última foi provada falsa e a última permaneceu não-falseada.Mas por esse motivo:
"(...) explicava tudo que a teoria explicara com êxito, e explicava também, até certo ponto, algumas anomalias conhecidas e, além disso, proibia acontecimentos como a trnsmissão de luz ao longo de linhas retas perto de grandes massas, a cujo respeito a teoria de Newton nada disssera, mas que haviam sido permitidos por outras teorias científicas bem corroboradas de tempo; ademais, pelo menos parte do inesperado excedente do conteúdo einsteiniano era de fato corroborada (por exemplo, pelas experiência do eclipse)"(Lakatos,1979.p.152).
Ainda há de ressaltar que o falseacionista sofisticado vê que muitas teorias são interpretadas scomo se elas contivessem uma cláusula ceteris paribus e só se alcança uma robusta falsificação dessa teoria juntamente com essa cláusula.Eu digo "robusta falsificação" e não "conclusão falseadora" porque para o falsificacionista sofisticado, a única coisa que está conclusivamente falsificado é o falseacionismo dogmático, porque acreditar no falibilismo da boca para fora.Em A Crítica e o Desenvolvimento do Conhecimento,Lakatos imaginou a seguinte situação como um exemplo que trata disso.Suponha que a trajetória de um planeta difira de sua trajetória conhecida.As condições iniciais e cláusula ceteris paribus foram rigorosomente corrobradas.Mas a dinâmica e a teoria gravitacional tem sido rigorosamente corroboradas nos úlimos séculos.O que fazer?Podemos chamar de "crítico" alguém que diga que a dinâmica e a teoria gravitacional está refutada?Não, uma teoria bem corroborada não cai por decreto.Tudo o que devemos fazer é considerar todos os ingredientes da teoria problemático a luz do enunciado básico aceito conflitante e tentar substituí-lo.Substituindo esse ingrediente, de modo que o substituto tenha mais conteúdo empírico corroborado que o original, tem-se uma teoria válida.
Essa citação é instrutiva, porque muitos acreditam que Stephen Jay Gould e Niles Eldredge tentaram fazer isso em relação ao gradualismo darwiniano ao propor a Teoria do Equilíbrio Pontuado.Nada mais enganoso ou ingênuo.Gould assumiu que em sua teoria, mesmo eventos biológicos pontuacionistas rápidos em tempo geológico, eram geneticamente graduais.O problema é que Gould que Darwin era gradualista filético, por ter dito que a evolução era lenta e gradual.Mas vários evolucionistas eminentes (notavelmente, Richard Dawkins e Ernst Mayr) argumentaram que não há nenhuma declaração de Darwin conectando gradualismo a sobre as taxas de evolução em A Origem das Espécies.Se um dos formuladores da síntese moderna da evolução, Ernst Mayr, afirmou que gradualismo genético e taxas de evolução estão desconectados e que gradualismo filético é uma teoria distinta dela, isso liquida definitivamente a questão.Logo, a teoria de Gould e Eldredge também é gradualista.E a ausência de abundância de transições de espécies é considerada uma "teste crucial negativo" segundo o próprio Darwin.Apesar de ter dito que "O registro geológico é extremamente incompleto e este fato justifica, em grande medida, que não se encontre variedade intermináveis, que unam todas as formas de vida extintas e existentes por pequeníssimos passos graduais. Quem rejeitar estes pontos de vista sobre a natureza do registro geológico terá todo o direito de rejeitar minha teoria".E a natureza do registro geológico mostra que temos 300.000 espécies fósseis contra 10 a 50 milhões de espécies viventes.Nosso selvagem falseacionista imaginário (e muitos outros reais) não leva em conta que as condições iniciais sequer foram retroditas na época que Darwin abordou a questão.Mas ele ignora a questão , e afirma que a escassez de transições de espécies era considerada um "teste crucial negativo" pelo próprio, e não como uma mera possibilidade.A verdade é que o verdadeiro "teste crucial" da evidência fóssil para o gradualismo foi feito e corroborado, porque mostra que as taxas morfológicas do registro fóssil são muito inferiores ao dos experimentos de seleção artificial e eventos de colonização.Vejam tudo isso no meu artigo: Ícones da Anti-Evolução-Parte 10:Fósseis Transicionais.
Por fim, essa breve descrição sobre a falseacionismo ingênuo serviu para contestar a afirmação que o darwinismo não foi falsificado ou revisado.Muitas afirmações de Darwin foram rejeitados ou modificados até por quem o apoiou mais fortemente (ex., por Mayr, Gould, Lewontin, e Dawkins).O modo como a evolução pode atuar sobre a ontogenia (leis de Von Baer) foi negado, o paradigma de hereditariedade que ele confiou foi negado, idem para a afirmação que a seleção natural leva a produção de formas "aperfeiçoadas" e "superiores".Mesmo a síntese moderna da evolução teve negações importantes.O princípio do gradualismo teve uma importante exceção incluída (a teoria da fusão simbiótica de Lynn Margulis).Muitas coisas foram revisadas na síntese moderna, principalmente depois da descoberta de Lewontin e Hubby de variação genética neutra escondida demonstrado que a evolução neutra era mais importante do que se pensava, da descoberta que um mesmo gene pode codificar várias proteínas, etc.
Não há dúvidas que um falseacionista dogmático não ficará satisfeito com essas revisões e falsificações , porque ele acredita que as avaliações periódicas devem entremeadas por poderosas refutações.Ele também não ressaltará a importância de que a substituição por outro paradigma necessita de pelo menos alguns dos pré-requisitos que Lakatos citou.
Ele sem dúvida negará que as teorias podem evoluir por verossimilhança, um conceito criado por um falseacionista não-dogmático, Karl Popper.Esta última requer que se produza primeiro as consequências lógicas da teoria, e que se escolha entre essas consequências, a classes de todas as consequências verdadeiras e de todas as falsas, resultando assim um método de escolha de teorias.Para o falsecionismo metodológico pouco importa se os programas de pesquisa venham a descobrir fatos novos ou se as teorias podem conduzir a consequências cada vez mais verdadeiras e cada vez menos falsas, aumentando assim sua verossimilhança.Nem é difícil imaginar porque o primeiro tipo de falseacionista não se simpatizará pelo Darwinismo, que evoluiu por este método.Vejam que a comparação da relativa verossimilhança de duas teorias depende de não haver mudanças revolucionárias no nosso com nosso conhecimento básico, algo que chega não se harmoniza muito com seu dogma que a ciência obrigatoriamente deve "ser essencialmente revolucionária".
Além disso, é altamente provável que um grupo de cientistas brilhantes conduzam sum programa de pesquisa, expandidando o programa progressivamente, mantendo o seu núcleo relativamente imune a revisão.Se um gênio quiser propor uma teoria rival para competir com esse núcleo, que faça.Mas se houver falta de êxito empírico, que não culpe o programa de pesquisa rival de construir sistemas arbitrários e forçar fatos a se ajustar a ele.A idéia de se fazer ciência é gerar um programa de pesquisa, através da construção de modelos efetivos, ressaltando a importância de uma série histórica de progressos.
Kuhn e as revoluções científicas
Thomas Kuhn foi autor norte-americano que criou um das obras de maior influência decisiva na Filosofia da Ciência contemporânea, ao ter escrito A Estrutura das Revoluções Científicas. Em relação a outra obra que causou a mesmo nível de influência, A Lógica da Pesquisa Científica ,difere em relação a maior ênfase que dá a tradição e o o descontentamento com as implicações do termo falseamento.A única concordância relevante parece ser que a ciência é essencialmente revolucionária, mas que não há uma lógica da pesquisa científica e sim uma psicologia da descoberta.Deixemos que o próprio explique isso:
“(...) uma teoria científica, após ter atingido o status de paradigma, somente é considerado uma teoria inválida quando existe uma alternativa disponível para substituí-la. Nenhum processo descoberto até agora pela história do estudo do desenvolvimento científico assemelha-se ao estereótipo metodológico da falsificação por meio da comparação direto com a natureza. Essa observação não significa que os cientistas não rejeitem teorias científicas ou que a experiência ou experimentação não sejam essenciais ao processo de rejeição, mas que – e este será um ponto central-o juízo que levam os cientistas a rejeitarem uma teoria previamente baseia-se em algo mais do que a comparação dessa teoria com o mundo. Decidir rejeitar um paradigma é sempre decidir simultaneamente aceitar outro e o juízo que conduz a essa decisão envolve a comparação de ambos os paradigmas com a natureza, bem como sua comparação mútua”. (Kuhn,1991.p.107,108).
Notem, a existência de um novo termo empregado: paradigma.Ele pode ser definido como um padrão referencial que irá guiar todas as atividades desta comunidade.Sem referência a natureza de elementos compartilhados, muitos aspectos da ciência dificilmente seriam compreendidos, porque eles são modelos que brotam as tradições específicas da pesquisa científica.Por exemplo, dizemos que a física moderna trabalha sob o paradigma einsteiniano e a biologia sob o paradigma darwinista.No passado, astrônomos, partilharam a "astronomia ptolomaica".Para Kuhn, uma vez que se encontre um paradigma, já não há uma ciência sem paradigma, porque rejeitar um paradigma, sem substutuir por outro é negar a própria ciência.
Paradigma é um termo estreitamente relacionado com o que Kuhn chamou de "ciência normal".Ciência normal significa a pesquisa firmemente baseada em uma ou mais realizações passadas.Essas realizações norteiam a pesquisa posterior.Essas realizações são relatadas em manuais científicos, definindo os problemas e métodos para a pesquisa posterior.Durante o período de ciência normal o progresso científico é cumulativo, porque o "cientista normal" aborda tudo a luz de uma teoria pré-concebida e não deseja contestá-lo.
O progresso da ciência normal se deve a resolução de quebra-cabeças, outro termo termo kuhniano.A função do cientista normal consiste em mostrar que a teoria dominante pode ser apropriada e aplicada na obtenção de uma solução para o enigma em questão.A ciência normal não busca a descobrir novidades no terreno dos fatos.Se ela falhar na resolução do quebra-cabeças, a ciência normal se encaminha para uma crise. Não só as anomalias não previstas geram a crise, mas também as descobertas científicas que apresentem uma contradição significativa para o qual o "cientista normal" não está preparado para enfrentar. A falha pode está no próprio paradigma,onde uma pesquisa rotineira mostra uma anomalia que sua "pesquisa normal" deveria lidar com êxito.Ou a fonte da crise está em um campo onde o paradigma não estava devidamente articulado.Por fim, a anomalia se trata fenômeno imprevisto, como uma descoberta científica que contradiga o paradigma.
O paradigma pode lidar com esse número de anomalias.Se os contra-exemplos epistemológicos forem de menor importância, não é necessário admitir a emergência de uma nova e diferente análise da ciência. A ciência normal pode tratar do problema que dá origem a crise.Em outros casos, a ciência normal resiste até a abordagens radicais, e os cientistas concluem que a solução só pode ser resolvida por uma futura geração que disponha de instrumentos mais elaborados.Caso essas duas situações não ocorram não ocorra, a ciência normal inicia a transição para a ciência em estado de crise.Não são os contra-exemplos epistemológicos que define uma ciência em estado de crise, visto que nenhum paradigma consegue resolver todos os problemas que define.Segundo Kuhn, nem mesmo a existência de uma crise transforma por si mesma um quebra-cabeça em um contra-exemplo.Não existe uma linha precisa definindo esta transição, mas se alguns cientistas consideram a resolução de determinada anomalia passa ser o objeto de estudo específico de sua disciplina ,um contra-exemplo pode ser levado a sério como um sinal do início dela.Mas a característica peculiar está no fato que, "a crise, ao provocar uma proliferação de versões do paradigma, enfraquece as regras de resolução dos quebras-cabeças da ciência normal, de tal modo que acaba permitindo a emergência de um novo paradigma" (Kuhn, 1991.p.110).
A investigação de cientistas envolvidos em "pesquisas extraordinárias" dá origem a uma tentativa de troca de paradigma,ou seja, as iniciativas pré-paradigmáticas.Os "pesquisadores extraordinários" geralmente vêem como contra-exemplos, aquilo que os pequisadores normais vêm como quebra-cabeças.Por exemplo, Einstein viu como contra-exemplos aquilo que Lorentz e outros haviam considerados como quebra-cabeças relativos as teorias de Maxwell e Newton.Caso algum paradigma candidato se mostre suficientemente mais promissor em relação a resolução de quebra-cabeças, vai ganhando adeptos, se consolidando até superar o paradigma anterior.O paradigma anterior em questão pode ou não ser completamente abandonado.Kuhn cita exemplos de total superação de paradigma como o Heliocentrismo e a superação da Teoria do Flogístico.Mas alguns paradigmas não são totalmente superados.Um exemplo, físicos trabalharam sob um paradigma newtoniano, porém, para certas áreas o abandonaram , para passaram a trabalhar sob o paradigma einsteiniano.
Uma outra abordagem de Kuhn é que os cientistas resistem a revoluções.Esta observação indica que os cientistas não possuem critérios de racionalidade independentes de nossa compreensão dos fundamentos do processo científico.Em outras palavras , eles são reféns de seu referencial teórico.Por exemplo, vejamos como Kuhn vê o imaginário exemplo popperiano da potencial refutação da "lei dos cisnes brancos".Vimos anteriormente que, para Popper, um cisne preto encontrado refutaria o enunciado que todos os cisnes são brancos.Kuhn acha que considerações teóricas de um cientista poderá adiar a questão enquanto espera a descoberta e o exame de outros espécimes.Apenas se o cientista estiver compromentido com uma plena definição de "cisne", ele se sentirá forçado a rescindir sua generalização.Entreteanto, um cientista dificilmente faria uma definição dessas, por não ter função cognitiva e por expor a tremendos riscos.Essa incompletude das definições é conhecida como "vagueza do significado".Isso não significa que "os cientistas não rejeitem teorias científicas ou que a experiência ou experimentação não sejam essenciais ao processo de rejeição", mas apenas que "o juízo que levam os cientistas a rejeitarem uma teoria previamente baseia-se em algo mais do que a comparação dessa teoria com o mundo".
Aí voltamos a questão da ciência normal em crise, novos paradigmas emergindo e se apresentando como rivais,etc.Segundo Kuhn, a história da ciência mostra que os debatentes de paradigmas rivais, começam a travar um diálogo de surdos, cada um querendo apenas debater os méritos relativos de suas teorias.Por isso ele diz:
“(...)visto que nenhum paradigma consegue resolver todos os problemas que define e posto que não existem dois paradigmas que deixem sem solução os mesmos problemas, os debates entre paradigmas envolvem a seguinte questão. Quais são os problemas que é mais significativo ter resolvido?” (Kuhn, T.1991.p.145).
Para ele, a resposta a última pergunta só pode ser dada através de critérios totalmente exteriores a ciência.Isso porque você não pode nem comparar quando uma teoria é mais próxima da verdade que a outra, devido a cada teoria global carregar seus próprios métodos de avaliação.Isso foi chamado de incomensurabilidade de paradigmas.Vejam que essa visão contrasta com a de Lakatos,segundo a qual existe uma maneira de se saber quando uma teoria é cientificamente melhor que a outra. A única convergência estaria na descrição dos casos históricos que ambos fazem da transição da fase progressiva para a fase degenarativa de um programa de pesquisa.A questão é Lakatos e outros imaginaram que Kuhn postulou que mudar de uma teoria global para outra está mais próximo de uma conversão religiosa que uma decisão racional.Isso obrigou Kuhn a escrever no pós-fácio de seu livro que é obrigação dos debatentes dos paradigmas apresentar boas razões para a substituição e/ou permanência deles, e que o fato dos paradigmas serem incomensuráveis não justifica algum rótulo de "irracionalidade".
Outras críticas foram feitas.Feyerabend e Lakatos, ressaltaram que as mudanças no componente filosófico, muito provavelmente,podem ser explicadas como resultado de argumentos claros e sem ambiguidade.Popper ressaltou que o cientista normal, descrito por Kuhn, foi mal ensinado.Foi descrito como vítima de doutrinação.Apesar dele concordar que uma revolução intelectual pode apanhar-nos "como o fuzilar de um raio, isso não quer dizer que não possamos avaliar, crítica e racionalmente, nossos pontos de vistas anteriores a luz dos novos".Nós seríamos um prisioneiro do referencial num sentido pickwickiano; se tentarmos podemos sair dele a qualquer momento e assim temos um cenário onde os referenciais competem entre si.Ele sustenta que o cientista deve ser sempre um crítico e proliferador de teorias alternativas.Em contrapartida, Kuhn sugere que uma estratégia que reserve tal comportamento para ocasiões especiais, porque apenas na transição da ciência normal para a ciência em estado de crise é que os cientistas se comportam como filósofos.Para ele, se o referencial é um pré-requisito para a pesquisa, então não é possível para algo ser essencial e ao mesmo tempo dispensável, como Popper sugere.Kuhn também rejeita a existência de uma técnica semanticamente neutra de escolha de teorias, daí sua visão de ciência ser mais relativista que a do filósofo austríaco.
Thomas Kuhn e os criacionistas
"Kuhn, por sua vez, definiria (em A estrutura das revoluções científicas, SP, Perspectiva, 1976) o progresso científico como competição entre modelos ou paradigmas , termo que virou moda na área de Humanidades. Os criacionistas não perderam a oportunidade: modelo por modelo, não havia razão para que o "paradigma da criação" não competisse, em igualdade de condições, com o 'modelo da evolução'. A tática deu certo: Arkansas e Lousiana, além de comitês de educação de outros Estados, adotariam o argumento dos 'dois modelos'. Outro caso (McLean vs. Arkansas) que foi parar nos tribunais."
Orlando Tambosi,1999.A Cruzada dos Criacionistas contra Darwin e o Evolucionismo.Observatório da Imprensa: http://observatorio.ultimosegundo.ig.com.br/ofjor/ofc200399c.htm
A citação do professor Tambosi é instrutiva, mas não aborda a seguinte questão.Porque os criacionistas se sentem tão atraídos pela visão da ciência de Kuhn?O ponto mais importante não é a afinidade por um modelo "competição de paradigmas", mas sim pela crença da existência de uma crise kuhniana de confiança ou mudança paradigmática na Biologia.E também por acreditar que o biólogo evolutivo é o "cientista normal" de espírito dogmático que se contenta apenas em tentar mostrar que sua teoria pode ser apropriada para lidar com um enigma e que se pertuba com hipóteses que não são "geralmente aceitas".
Desde a década de 60 que os criacionistas "científicos" postulam que a teoria da evolução está em crise.Obviamente, o mesmo discurso não poderia faltar ao movimento do Design Inteligente que se iniciou por volta da década de 80.
Segundo eles , o próprio Kuhn teria deixado os sintomas de uma ciência normal para a ciência em estado de crise.
"Quando por essas razões ou outras similares, uma anomalia parece algo mais que um novo quebra-cabeças da ciência normal, é sinal que se iniciou a transição para a crise e para a ciência extraordinária.A própria anomalia passa a ser mais comumente reconhecida como tal pelos cientistas.Um número cada vez maior de cientistas eminentes do setor passa a dedicar-lhe atenção sempre maior.Se a anomalia continua resistindo a análise(o que geralmente acontece), muitos cientistas podem passar a considerar sua resolução como o objeto de estudo de sua disciplina.Para esses investigadores, a disciplina não será a mesma de antes"(Kuhn,1991.p.113,114).
O outro sintoma diz a respeito da numerosas articulações divergentes como solução parcial, com o consequente relaxamento das regras que orientam a pesquisa normal, trazendo a ela em um aspecto semelhante a pesquisa pré-paradigmática, com a única diferença que a última tem um nível de divergência menor.
Vejamos o primeiro aspecto.Só poderíamos saber se o primeiro pré-requisito está cumprido se fizéssemos uma pesquisa perguntando aos biólogos atuais se os quebra-cabeças atuais são vistos da mesma forma que os de 30 ou 40 anos atrás ou se a disciplina "não é a mesma de antes",caso contrário teremos uma vagueza de significado em qualquer tentativa de identificar esse sintoma dessa crise.Por exemplo, o Discovery Institute se vangloria por ter conseguido um abaixo-assinado de centenas de cientistas que se dizem céticos em relação ao darwinismo.Entretanto, a NCSE mostrou que esse número não é maior do que os cientistas chamado Steve (ou com nome cognata,como Stephanie) que concorda não haja "nenhuma dúvida científica séria que a evolução ocorreu ou que a seleção natural é um mecanismo principal em sua ocorrência".Só lembrando que segundo a NCSE, o número de cientistas chamaddo Steve é de cerca de 1%.Vejam ambos abaixo-assinado o "Scientific Dissent from Darwinism" e "Project Steve" .Apesar disso, a mera existência de cientistas que vêem o Neodarwinismo como incompleto ou inadequado como explicação parece ser suficiente como pretexto para muitos afirmarem dizer que a evolução está em crise.
Agora passemos ao argumento da desintegração das regras que norteiam a pesquisa normal entre os cientistas.Os criacionistas dizem que entre os dissidentes do darwinismo estão cientistas com prestígio entre os biólogos, como Michael Denton, Sören Loventrup, Stuart A. Kauffman, Stephen Jay Gould, Niles Eldredge, Rudolf A. Raff, Wallace Arthur, Lynn Margulis, Jeffrey H. Schwartz e Brian Goodwin.
Entretanto, antes de analisarmos isso vejamos as teorias mais importantes da síntese moderna:(1)evolução como tal, (2)descendência comum,(3)multiplicação de espécies, (4)gradualismo,(5) seleção natural (6)luta pela existência, (7)seleção sexual,(8)mutações aleatórias por herança mendeliana, (9)deriva genética/neutralismo e (10)funcionalismo.Ninguém pode ser chamado de negacionista do darwinismo apenas por ser um defensor inflexível de todas essas teses.Lynn Margulis por exemplo, só difere em relação a origem da variação genética e as causas da especiação.Gould dá maior importância a evolução neutra e ao acaso, só desafia a seleção natural em parte.Além disso, mesmo questionar uma teoria não é negá-la completamente.Por exemplo, Stuart Kauffman acredita que a seleção natural necessita da ajuda de sua teoria da auto-organização, mas como ele disse em The Origin of Order (1993)que a seleção é "uma força preminente na evolução, apesar das dúvidas em alguns casos particulares".Jeffrey H. Schwartz acredita que o gradualismo darwiniano está errado,mas o mecanismo por qual as macromutações de sua postulada evolução saltatória atua é a seleção.Como a seleção natural é o único mecanismo conhecido capaz de explicar a adaptação, quase ninguém quer negá-la extensivamente.Somando isso ao fato que nenhum dos dissidentes citados, possuem restrições significativas a cinco teses (a 1, 2,3,7,8), então devemos perguntar onde está a desintegração das regras que norteiam a pesquisa normal, a ponto de trazê-la a nível pré-paradigmático?Se pelo menos soubéssemos que a maioria dos biólogos não apoiam significativamente pelo menos sete teses das que eu citei, é que poderíamos dizer que o sintoma kuhniano da crise está diagnosticado.Mas onde está a evidência para isso?A verdade é que algumas elaborações evolutivas estão mais próximo do neodarwinismo do que o próprio Darwinismo original.Só ressaltando que o que Darwin frequentemente chamava "minha teoria", é definido por Mayr como um programa de pesquisa onde cinco teorias são fundamentais (a 1,2,3,4 e 5).Mesmo a dúvida na sua tese mais polêmica, não apaga isso, porque o próprio Darwin tinha dito isso no capítulo final da sexta edição do A Origem das Espécies :"Eu estou convencido que a seleção natural foi o principal, mas não exclusivo meio de modificação".
O argumento antievolucionista para a afirmação que a evolução está em crise é porque existe controvérsia visível intramuros.Mas a maneira como o assunto é tratado por eles como se isso significasse existisse controvérsia significativa em relação a idéia de descendência com modificação a partir de ancestrais comuns ou que a seleção natural é um fator significante afetando como as espécies mudam, podemos ver que essa alegação é falsa.Frente a um paradigma tão influente, os biólogos evolucionistas heterodoxos são cientistas profundamente "angustiados", porque não conseguem mais do que adicionar adornos a solução biológica encontrada por Darwin e os formuladores da Síntese Moderna da Evolução.Porque se deve ser cético a tese que determinado evolucionista vê o neodarwinismo como descartável?Sempre acaba na mesma coisa.Há muito tempo e a cada ano um artigo, ou mesmo um livro aparece postulando um erro ou omissão sérios do darwinismo.O autor propunha uma nova teoria, ou novas teorias, que ele ou ela alegava corrigir esse erro, preencher a lacuna e dá suficiência lógica ao paradigma.Já foi proposto a simbiogênese (ver:Margulis & Sagan,2002), a auto-organização (ver: Kauffman,1993) ou modelos morfogênicos biofísicos organizadores de tecidos embrionários (ver:Muller & Newman,2003).Entretanto, esses exemplos, mostram que várias dessas elaborações "alternativas" não negam o papel da seleção como fator organizador principal ou propõe mecanismos desconhecidos por biólogos evolutivos.Elas incluem e são compatíveis com mutações ao acaso, seleção individual e o resto da genética de populações, da mesma forma que teorias bioquímicas são compatíveis com leis da física e da química.Mas nem todos os acréscimos são válidos.Em muitas situações, o já clássico darwinismo era sempre confirmado e as supostas melhorias e correções, refutadas.De qualquer forma, seria muito conveniente para criacionistas que existissem que uma grande proporção de cientistas que acreditassem que há uma evidência positiva que causas naturais não podem explicar a evolução, mas não é isso que ocorre.
Poderíamos focar a discussão para outro lado.A de que a visão de ciência de Kuhn não é basdo numa lógica da pesquisa científica e sim numa tese de relativismo histórico.E que para que a última tenha consistência, é necessário se estude as disciplinas específicas das ciências em determinados períodos para ver se realmente se as generalizações de Kuhn se aplicam a ela.No caso da história da biologia evolutiva, tivemos vários paradigmas, mas não há praticamente nenhuma confirmação para a tese de Kuhn nessa área(Mayr,2005.cap. 9).
Ninguém nega que a revolução darwiniana foi uma revolução científica genuína, mas mesmo ela não procedeu da maneira específica que Kuhn postulou, com revoluções curtas intercaladas por longos períodos de “ciência normal”.É possível citar dois exemplos das duas maiores revoluções: a teoria da descendência comum e a teoria da seleção natural.Em primeiro lugar, o impacto da teoria da descendência comum na macrotaxonomia, foi menor que se poderia supor.Isso porque o campo de pesquisa já adotava o sistema linaeano que classificava os organismos de forma hierárquica, com base no maior número de características compartilhadas.A teoria da descendência comum forneceu o suporte empírico para se ampliar à investigação baseada nessa classificação, que competia com outra que era chamada de classificação descendente.Além disso, com a teoria da descendência comum, os arqueótipos (homologias) de Richard Owen ganhavam sentido e uma explicação racional.É tanto que essa teoria de Darwin foi quase que imediatamente aceita depois de postulada.
O mesmo não aconteceu com a teoria da seleção natural, que foi combatida ferozmente até por evolucionistas e graças a isso foi necessário 80 anos para “derrotar” completamente seus paradigmas competidores,representados pelo Neolamarckismo, Saltacionismo e Ortogênese (Mayr,2005,cap.9 ).Nesse período, houve inúmeras revoluções científicas menores, como a refutação da herança dos caracteres adquiridos, refutação da herança misturada, descoberta da fonte de variação genética e da meiose, fundação do conceito biológico de espécie, descoberta da deriva genética,estabelescimento da teoria matemática da genética de quantitativa e de populações etc. Talvez nem possamos chamar isso de revoluções menores, porque teríamos que falar em "revoluções constantes" e isso é uma contradição semelhante a falar em "círculo quadrado".De qualquer forma, muitas introduções de novos conceitos e novas descobertas não tornaram a ortogênese ou o saltacionismo em paradigmas em crise.Surpreendentemente, eles conviveram bem com seu principal rival por várias décadas.Nunca se ouvirá de um biólogo evolutivo uma declaração semelhante de Wolfang Pauli durante a crise da mecânica quântica nos anos 20 antes que Heisenberg tivesse aberto o caminho para uma nova Teoria dos Quanta:
"No momento, a Física está mais uma vez em terrível confusão.De qualquer modo, para mim é muito difícil.Gostaria de ter-me tornado comediante de cinema ou algo do gênero e nunca ter ouvido falar em Física."(Kuhn cit. Pauli,1991.p.115).
Vejam o que o mesmo Pauli pronunciou cinco meses depois (e que Kuhn cita na mesma página):
" O tipo de Mecânica proposta por Heisenberg devolveu-me a alegria e a esperança de viver.Sem dúvida alguma, ela não proporciona a solução para a charada, mas acredito que agora é possível avançar novamente"
Porque paradigmas em biologia evolutiva nunca ascenderam e entraram em crise da forma e na velocidade que Kuhn postulou?Lembremos primeiro que Kuhn era físico,e que sua descrição é totalmente adequada para as ciências que possuem leis naturais.Físicos e químicos estão constantemente testando teorias em sistema com baixa sensibilidade as condições iniciais.As teorias evoluem mais rápido não só por isso.Muito do avanço nessas áreas se deve ao avanço matemático em suas equações.Por exemplo, foram elas que foram diretamente responsáveis pela demonstração de Hawking e Penrose que o espaço-tempo teve início no Big-Bang .A teoria das cordas em Física é outro exemplo disso.Ela veio como uma abordagem promissora para a criação de uma teoria quântica da gravidade, justamente porque os teóricos das cordas dispõe de algumas equações aproximadas para ela.Não por acaso as teorias evoluem e são substituídas mais rapidamentemente.
Em biologia evolutiva, as coisas não funcionam assim.Não existem leis naturais que tornem possível predizer o que acontecerá numa pesquisa de campo ou de laboratório.A biologia evolutiva tem uma estrutura complexa de causas.Tudo em biologia apresenta causas proximais (ou mecânicas) e finais (ou evolutivas), e mesmo as últimas são uma mistura de história, dos acidentes e da adaptação.Já que nada é entendido até que todas as causas tenham sido identificadas, os biólogos precisam conhecer muito das causas dos fenômenos biológicos e discutir com outros biólogos os que enfatizam abordagens diferentes das suas.Sem falar que devido a da importância baixa da matemática em biologia ,as teorias em biologia quase sempre dispensam acrobacias matemáticas (Marcus Valério XR, 2006).Somando tudo isso, entende-se porque selecionar determinadas teorias em biologia (não só em evolução) ou rejeitar um paradigma é mais difícil e muito mais demorado do que em outras ciências naturais.Isso explica a resistência do Neolamarckismo, da Ortogênese e Saltacionismo como explicações aceitáveis por tanto tempo.
Também é um equívoco acreditar que uma teoria que lida com causas tão complexas deveria ser monolítica.O caráter não não-monolítico do paradigma darwiniano não é aparência de crise, porque se fosse o neodarwinismo estaria em crise desde o tempo anterior a formulação da síntese moderna da evolução.Mas vemos que apesar da heterogeneidade, ela guarda uma unicidade significativa.As dicussões de Gradualismo Filético x Equilíbrio Pontuado e Neutralismo x Selecionismo, envolvem a defesa de uma mesma teoria básica.Gradualistas filéticos e pontuacionistas concordam que os eventos biológicos rápidos em tempo geológico são geneticamente graduais.Por outro lado, neutralistas e selecionistas concordam que se considerarmos todos os sítios de um genoma (silenciosos e não-silenciosos), a maioria das mutações são neutras ou aproximadamente neutras.
O curioso do descontentamento kuhniano com as implicações do termo "falseamento", era porque ele considerava possível as teorias serem modificadas até mesmo por ajustamentos ad hoc e ainda assim ser a mesma teoria (Kuhn em Lakatos & Musgrave, 1979.p.20).Isso mostra que seu argumento sobre os sintomas da ciência em crise, era muito mais sofistificado que postular que uma ciência em crise é aquela que faz proliferar hipóteses auxiliares.
Outros argumentam que quando uma teoria não consegue lidar com um número arbitrário de anomalias, uma mudança paradigmática se faz necessária.Dizer que esta visão de ciência pertencia a Kuhn é ser incompleto e enganoso.As pessoas que dizem isso devem se lembrar da analogia kuhniana que diz mudanças de paradigmas em ciência se assemelha a evolução biológica.A ciência, assim como a evolução, avança com regularidade desde um início primitivo, sem se dirigir a nenhum objetivo.O mecanismo mais importante para a evolução da ciência foi a seleção realizada no interior da comunidade científica.Assim, não importa quantas variações de paradigma tenhamos, a revolução só ocorrerá se houver uma seleção revolucionária.Kuhn nunca disse que uma revolução científica é inevitável e nem que isso é necessário devido a algum objetivo.A evolução das teorias em ciência procede por uma série de critérios , mas nenhuma delas é capaz de reconhecer qual é a mais velha e qual a descendente.Ela também é como uma árvore filogenética, é unidirecional e irreversível.Outra semelhança com a árvore filogenética real é que os ramos que não enfrentam competição acirrada não se extinguem.Para Kuhn, rejeitar um paradigma sem ter outro para substituí-lo é rejeitar a própria ciência.Isso é válido, não importa quão "mal paradigma" ele seja.
Muitos acham estranho o paradigma da evolução relativamente estável a 150 anos.Entretanto, dizer que isso é incompatível com a tese de Kuhn, seria o mesmo que dizer que o fato de o peixe celacanto ter uma morfologia relativamente estável há 100 milhões de anos contradiz a teoria da evolução.Muitas teorias não mudaram nada pela simplesmente devido a total falta de rivais.A descendência comum é um exemplo disso.Não há absolutamente nenhuma outra teoria que foi proposta dar conta cientificamente para a resolução de seu domínio específico: a unidade, diversidade, e padrões da vida terrestre.Hoje, ela é uma teoria bem corroborada, mas se ela entrasse em crise não seria substituída, por simples falta de "variação genética".Com relação aos mecanismos teóricos capazes de explicar a adaptação, muitos argumentam que os biólogos não-criacionistas estão errados ao dizer que a seleção natural é o único mecanismo que explique cientificamente a adaptação.Entretanto, fazem isso ao dizer que o desígnio inteligente guiando a evolução ou criando os organismos seria responsável por elas.E que biólogos não reconhecem isso apenas por estarem compromentidos com o materialismo metodológico.É uma frase enganosa.A questão é que uma teoria científica deve ter poder explanatório.De nada adianta postular uma criação ou projeto se não se pode deduzir fatos delas e não responder a uma simples pergunta "porque essa espécie possui este traço, preferivelmente a este?"Só lembrando, que se você levar a sério a analogia de Kuhn que as mudanças de teorias são como árvores filogenéticas (irreversíveis e unidirecionais) não faz sentido apelar para a teleologia, como uma "revolução" e "mudança de concepção de mundo", já que a maioria dos lamarckistas eram teleologistas cósmicos.
Por fim, a alegação de dogmatismo do biólogo evolucionista que seria típica do cientista normal.Na verdade, não há nenhum problema em haver algum dogmatismo em ciência, porque isso cumpre um papel importante.Parafraseando Popper, se nos sujeitarmos a crítica com demasiada facilidade, como descobriremos onde está a verdadeira força de nossas teorias?Kuhn ressalta que o referencial é importante, mas isso não quer dizer que um cientista normal não possa alternar essa visão em ocasiões especiais.Dogmatismo extremado não pode ser considerado sinônimo de defesa de não-mudança de paradigma.
Mas o darwinismo religioso pode existir? Claro, existiram muitos sistemas metafísicos que utilizaram o Darwinismo como forma de visão de mundo.Isso pode ser chamado de "Darwinismo metafísico" (Ruse,1992).Ele existe em oposição ao Darwinismo científico e está presente nas filosofias de Hebert Spencer e Ernst Haeckel.Isto não autoriza, porém, a dizer que este tipo de Darwinismo não esteja separado da teoria científica.
Feyerabend e o "vale tudo"
Paul Feyerabend é o famoso filósofo da ciência que é conhecido por defender o princípio do "vale tudo" em ciência na sua obra Contra o Método. Entretanto, em Science in a Free Society (1978,p. 39,40), ele analisa:
"Note-se o contexto da declaração. 'Vale tudo' não é o princípio de uma nova metodologia recomendada por mim. (...). Se a minha descrição está correta, então tudo o que um racionalista pode dizer acerca da ciência (...) é: vale tudo."
A crítica é dirigida a filósofos racionalistas, que acreditam na existência de um método científico universal, que existem métodos neutras de escolhas de teorias e de princípios que se apliquem independentemente da situação.Feyeranband,assim como Kuhn, defende a tese da incomensurabilidade dos paradigmas.Neste aspecto, ele é radical:a física, a metafísica e a cartomancia estão em pé de igualdade como sistemas incomensuráveis.Ele continua:
"as regras e padrões não são abolidos — não podemos encetar a investigação sem qualquer equipamento metodológico — mas são usadas à experiência e mudadas quando os resultados não são os esperados." (ibid,p. 166)
Sobre a última observação , Feyerabend argumentou que o método era restrito a pequenas subdisciplinas.Ele foi um crítico do falseacionismo e argumentou que nenhuma teoria interessante é completamente consistente com todos os fatos relevantes.Ressalta que o uso da renormalização e de métodos ad hoc foram essenciais na ciência.Cita que nos tempos de Galileu, os astrônomos não conheciam a teoria óptica e utilizaram esse articífio para explicar as observações que obtinham pelos telescópios.E acha que método científico de Lakatos é apenas um ornamento para nos esquecer a adoção de uma atitude "vale tudo".Nem mesmo Kuhn escapou de suas críticas.Ele justifica que o relato de Kuhn de períodos de proliferação separados temporalmente de períodos de monismo não se sustenta pela evidência histórica.E que não é a atividade de solução de problemas que faz crescer o conhecimento, mas as interações de várias concepções sustentadas com tenacidade.
Também defendeu o hendonismo epistemológico.Todos podem seguir suas inclinações e a ciência poderá aproveitar essa atividade.Ele defende isso desde que seja feito concomitantemente com o princípio da tenacidade e da proliferação.Isso significa que a pessoa não deve seguir apenas as suas inclinações, mas também desenvolvê-las, erguê-las, com a ajuda da crítica (isto envolve uma comparação das alternativas existentes) de modo a erguer a defesa a um nível mais alto de consciência.
Feyerabend não é anti-ciência,subjetivista e nem anti-razão.O que ele advogou foi a existência de um anarquismo científico, significando: a ciência não progride por nenhum jogo de regras, de critério ou método universais.Essa visão é considerada radical para a maioria dos filósofos da ciência, que não admitem o fracasso da capacidade de uma descrição geral da ciência por parte da Filosofia.
Poderíamos dizer que essa visão de ciência feyerabendiana não é compatível com os que acham que criticam a evolução por acreditar que ela não segue um método científico ou postulam insuficiência epistemológica de seu paradigma.Mas, sem dúvida, as idéias de Feyeranband podem ser utilizadas por alguns criacionistas.Ele chegaria a defender-lhes o direito de terem a criação bíblica ensinada nas escolas ao lado da teoria de Darwin.Porém, fica a dúvida se o criacionismo pode ser um hedonismo feito concomitantemente com o princípio da proliferação e da tenacidade,dado que seus líderes postulam a inerrância científica da Bíblia.O mesmo não pode se dizer da evolução, que já chegou a ser controversa na comunidade científica e teve que ser muito desenvolvida, criticada e debatida para chegar até o status atual.
Evolução e Pragmatismo
Há alternativas ao critério de demarcação de ciência de filósofos como Popper, Kuhn e Lakatos .Uma é sugerida pelo pragmatismo, uma escola de de filosofia que tem origem nos EUA que caracteriza-se pela ênfase dada às consequências, utilidade e sentido prático como componentes vitais da verdade.Segundo ela, o valor de uma hipótese está situada em seu resultado prático, naquilo que mais contribui para o bem-estar da humanidade.É neste contexto que é dito que a evolução é acusada de ser uma ciência que não oferece benefício prático.Será isso verdade?
O governo americano gasta de 33 a 50 bilhões de dólares por ano, devido a evolução provocada pela ação humana.Essa evolução inclui o aumento de resistência a antibióticos por parte de bactérias que causam muitas doenças e infecções perigosas, o aumento da resistência química que populações de insetos adquirem devido aos ingredientes utilizados em inseticidas e as adaptações que os peixes adquirem frente aos nossos métodos de pesca(Ridley,2006, prefácio vi).A teoria evolutiva é usada no campo da gerência da resistência na medicina e na agricultura (Bull & Wichman, 2001).A ecologia evolutiva e o conhecimento da virulência dos parasistas em populações humanas pode ajudar guiar a política de saúde pública (Galvani,2003).Desenvolvimento de estratégias para enfrentar esses organismos "evoluídos" depende do conhecimento prévio de leis de mutação e seleção.
No campo da informática, existe a programação genética que utiliza mutação, recombinação sexual e seleção natural como alicerces básicos.Ela é uma técnica de engenharia que possui muitas aplicações, incluindo a criação de soluções na engenharia aeroespacial, a arquitetura, a astrofísica, engenharia elétrica, finanças, geofísica,etc.
Os métodos de construção de árvores filogenéticas, que leva em conta a teoria de descendência com modificação, não são coisas abstratas.Técnicas da sistemática filogenética já demonstraram que um dentista transmitiu HIV para seus pacientes, comparando os genomas dos vírus das pessoas infectadas e de suspeitos (Hillis et al,1996).A análise filogenética teve um papel significante na condenação bem-sucedida em casos criminais.Vejam:
Albert, J., Wahlberg, J., Leitner, T., Escanilla, D. and Uhlen, M. (1994). Analysis of a rape case by direct sequencing of the human immunodeficiency virus type 1 pol and gag genes. J Virol 68: 5918-24
Machuca, R., Jorgensen, L. B., Theilade, P. and Nielsen, C. (2001).Molecular investigation of transmission of human immunodeficiency virus type 1 in a criminal case.Clin Diagn Lab Immunol 8: 884-90.
A conclusão que chegamos é que evolução é ciência em seu mais alto grau, e não apenas porque teve hipóteses confirmadas, mas porque é a única teoria em sua categoria que faz diferença no sentido prático.
Referências:
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