Saturday, February 10, 2007

A evolução do altruísmo

Recentemente foi publicada no "O Globo" uma reportagem chamada "Achada no cérebro a origem do comportamento altruísta", que dizia que:

“Mapeando, por ressonância magnética, o cérebro de 19 indivíduos, os pesquisadores constataram que, ao fazerem as doações anônimas, as pessoas ativavam o chamado sistema de recompensa do cérebro.”

Vejam o link da reportagem:
http://www.cbpf.br/~caruso/secti/publicacoes/clippings_mensal/outubro/10_10.html#20

Ao ver essa pesquisa publicada na PNAS, imaginei a polêmica que ela causaria.Estive lendo "Tábula Rasa" (Editora Companhia das Letras) de Steven Pinker e ele nota que quando tentam explicar a mente, comumente as pessoas recorrem a três idéias que o psicólogo de Havard considera equivocada: a idéia que a mente de um feto é a uma tábula rasa a ser preenchida pelos pais e pela sociedade, a concepção de que o homem em seu estado primitivo é um “bom selvagem” e a noção que uma alma material dotada de livre-arbítrio é a única responsável pelas nossas ações.Ao seu ver, a sociobiologia e a psicologia evolutiva foram muito subestimadas como explicação do comportamento humano, principalmente naquela que diz que o altruísmo também é algo passível de evoluir naturalmente.Ele ressalta também que quem aprecia leis e salsichas não deveria ver como elas são feitas.

Prossegue argumentando que não defende o determinismo genético.Isso porque os genes do nosso corpo não é como a planta de uma arquitetura e sim uma receita de bolo.Não podemos dizer que cada ingrediente influi de forma precisa e delineada de como o bolo será feito.Ou seja, muitos ingredientes tem efeito de como o bolo se formará, mas cada um necessita da interconexão de vários deles.A mesma coisa é para o comportamento humano.É claro que genes influem no nosso comportamento.Se genes não influíssem no comportamento, então como poderíamos explicar porque uma ovelha age diferente de um leão.

O problema, segundo Pinker, é que as pessoas tem medo do determinismo biológico.Muita gente se choca quando houve falar que determinado bandido teve a probabilidade de ter uma ação aumentada por causa de um gene que aumenta a agressividade.Mas será que isso quer dizer que estamos liberando explicações absurdas para o crime como: "Não fui eu, foi minha amídala?"Claro que não.Não há determinismo biológico.A última coisa que desejamos é fazer tudo que a nossa alma bem entender.No momento em que temos a sensação que a conseqüência de uma atitude danosa será a repressão da justiça, da sociedade ou a vergonha, então o nosso cérebro pode vir com uma mensagem a bordo:"Se você cometer atitude X te fizer passar por mal educado, não faça X".A questão é que o comportamento do bandido é probabilístico, e não determinístico.

É claro que explicar um comportamento não é a mesma coisa que desculpá-lo.Mas se o comportamento não é algo totalmente aleatório, há de haver alguma explicação.Se o comportamento fosse aleatório, então não poderíamos condenar ninguém porque uma pessoa não se deteria na primeira mínima vontade que tivesse de fazer algo.Ele cita muitos comportamentos onde a natureza humana prevalece.O fato de o adultério ser elevado entre os homens do que em mulheres é um exemplo perfeito de como os genes de nosso corpo tem grande influência no nosso comportamento.

Na verdade, pareceu-me que Pinker leva em conta tanto a natureza biológica como a influência da sociedade e dos pais.Ele nota que o fato do comportamento humano ser mais diversificado que aquele entre os animais é uma prova que a explicação do nosso comportamento está além de nossos genes.Ele diz também que teóricos da evolução do comportamento animal (como Richard Dawkins e Edward Wilson) sempre defenderam isso, apesar de seus críticos nunca terem percebido.

Eu recomendo muito a leitura desse livro.Ele é altamente instrutivo e de leitura acessível.