Monday, January 29, 2007

Um curioso exemplo de discurso criacionista

O forista "o pensador" postou o seguinte tópico "Darwin e a dinâmica massa/energia" no fórum Clube Cético (lugar onde eu também posto):

http://clubecetico.org/forum/index.php/topic,9615.0.html


Vejam a curiosa argumentação:

"A complexa e dinâmica interaçâo entre matéria e energia nos indica o seguinte cenário:

1)A proporçâo quantitativa entre matéria/energia tende sempre à prevalência de matéria sobre energia pois uma pequena quantidade de matéria gera uma quantidade exponencial de energia enquanto que é necessária uma enorme quantidade de energia para gerar uma pequena quantidade de matéria.

2)Suponhamos que haja,por exemplo,2 unidades de matéria e 10 de energia no Universo;e que seja necessário necessário 2 unidades de energia para gerar 1 de matéria,e 1 unidade de matéria para gerar 2 de energia.

Se o Estado inicial do Universo,posterior ao Big Bang, era proporcionalmente predominado por energia,como pressupôe a teoria evolucionista,como também alguns modelos cosmogônicos,por conseguinte se fazia necessária uma transformaçâo massiva e gradativamente crescente de energia em matéria,de maneira que houvesse suficiente acumulaçâo de matéria de modo a equacionar a quantidade observável no Estado atual do Universo.

Assim se no princípio da história do cosmo haviam 2 unidades de matéria e 10 de energia,para cada 2 unidades de energia utilizadas se formaria uma de matéria.

Após a primeira transformaçâo,portanto, haveriam 8 unidades de energia para 3 de matéria,e subsequentemente,6 energia/4 matéria,5/5,4/6,3/8,e finalmente 2 unidades de energia para 10 de matéria.

Por outro lado,para cada conversâo de uma unidade de matéria em energia seriam geradas 2 unidades de energia;e assim,após a primeira transformaçâo haveria 8/3(conversâo de energia em matéria)/10/5(após a primeira transformaçâo de matéria em energia;uma proporçâo de matéria que subiu de um valor inferior à 50% para um valor equivalente à 50%.

Após a segunda transformaçâo,haveria 10 energia/5 de matéria por 12 de energia/ 4 de matéria.Seguindo o mesmo padrâo que a primeira transformaçâo de matéria em energia e a primeira transformaçâo de energia em matéria.

Nota-se,portanto,que a necessidade de uma quantidade maior de energia pura para se converter em matéria em relaçâo à quantidade de matéria para se converter em energia conduz à uma implicaçâo óbvia:A proporçâo de matéria em relaçâo à energia só descresce com o passar do tempo e com as transmutaçôes de modo que haja gradativamente mais energia dispersa do que concentraçôes específicas de massa.

A teoria da Evoluçâo pressupôe uma proporçâo de matéria inferior à de energia com o passar do tempo,pois de organismos extremamente simples e de massa desprezível, teriam surgido organismos altamente complexos e massivos como o do ser humano;o que evidentemente contraria a evidência já que é frontalmente contrário à observaçâo geral do desenvolvimento do Universo,como visto acima.

Levando isso tudo em em consideraçâo,onde está a possibilidade FÍSICA de que a teoria de Darwin esteja correta?"

Depois dessa confusa arguumentação, ele explicou resumidamente assim seu argumento:

"Esta nâo é a questâo.A questâo é que há uma proporçâo quantitativa muito maior de conversâo de matéria em energia do que o contrário no Universo observável,tornando impossível a complexizaçâo de energia em matéria . "

E eu o respondi assim:

Os organismos não são usinas de transformação de energia livre em matéria.Por exemplo,um óvulo fecundado se transforma em embrião, por causa da mitose e da capacidade autoreplicadora do DNA.A célula-mãe transfere as células filhas todo seu patromônio genético através de uma duplicação de cromossomo para cada divisão de núcleo.A energia obtida para essas atividades metabólicas vem da energia química adquirida acumulada em moléculas orgânicas.

Outra coisa.Imagine a quantidade de matéria orgânica que você mastiga por dia e depois multiplique pelo número de dias que você viveu.Imaginou? Agora responda, você acha mesmo que existe mais matéria sendo criada a partir de energia para fazer seres maiores ? E se há , como você explicaria que um óvulo fecundado se transforma em embrião?E como você explicaria a renovação dos tecidos pelas células velhas por outras novas?A questão que você não percebeu é que quando um organismo evoluiu para outro maior, o que ocorre é apenas uma consequência DO AUMENTO DA TAXA DE MITOSE durante o desenvolvimento embriológico.

Até agora, ele não respondeu se apesar de tudo o que falei, ainda acha a evolução uma coisa proibida pela leis físicas.Talvez se convenceu que seu argumento não era bom.

Não pensem que ele está sozinho neste barco.O famoso bioquímico e criacionista "científico" Duane Gish acha que a evolução viola o princípio de conservação de massa e energia, porque assim como esse forista, não entende que evolução é TRANSFORMAÇÃO e não CRIAÇÃO.

Friday, January 26, 2007

O mito do "DNA-lixo"

O que é mais comum ver em sites e blogs criacionistas são os comentários sobre descobertas da genética molecular que evidenciam a existência de funções no "DNA-lixo".Pior, fazem isso afirmando que isso corrobora a "predição" que diz que se tudo foi projetado cuidadosamente por um criador inteligente, então tudo (ou quase) há de ter função.

Dizer que os cientistas acreditam em "DNA-lixo" é um mito e vou explicar o porquê.Há muito tempo se sabe que muitas sequências não-codificadoras tem funções importantes.Por exemplo, alguns íntrons tem papel na regulação de genes.Desde que essa descoberta foi feita a expressão perde o sentido.

É por isso que nenhum cientista poderia apontar para um trecho de DNA e dizer:"Olha, esse DNA não tem função alguma, é puro lixo".Obviamente, chegamos aí ao mesmo pensamento ingênuo que faz os criacionistas acreditarem que a descoberta de funções em órgãos vestigiais contradiz a teoria da evolução.Não é possível obter uma evidência positiva precisa de ausência de função.O que se pode mostrar é que a existência de uma estrutura que tem efeito insignificante para a sobrevivência e reprodução do organismo.Dado que tanto sucesso reprodutivo quanto viabilidade podem ser observados e medidos quantitativamente, então a evolução pode explicar que existe e porque existe uma redundância desnecessária de DNA no genoma.

Algumas evidências que mostram que existe sim DNA sem qualquer função relevante no genoma :

*Algumas sequências do DNA podem ser cortadas ou substituído por seqüências randômicas, tudo isso sem nenhum efeito aparente no organismo (Nóbrega et al,2004).

*O peixe fugu tem um genoma de um tamanho igual a um 1/3 de seus parentes próximos (o criacionismo diz apenas que isso significa que "nosso conhecimento de bioquímica ainda está na infância": http://creationwiki.org/(Talk.Origins)_ )

*Mutações em regiões funcionais no DNA mostram evidências de seleção -- as mudanças não-silenciosas ocorrem menos frequentemente que se esperaria por acaso.Se houvessem funções em todas as partes do DNA, então não se esperaria coisas como essa:

"Li e Graur, no seu texto de evolução molecular, deram as taxas de evolução para taxas silenciosas vs. substitutivas. As taxas foram estimadas a partir de comparações de seqüências de 30 genes de humanos e roedores, que divergiram há cerca de 80 milhões de anos. Sítios silenciosos evoluíram a uma taxa de aproximadamente 4.61 substituições de nucleotídeos por 109 anos. Sítios substitutivos evoluíram muito mais vagarosamente à uma taxa de cerca de 0.85 substituições de nucleotídeos por 109 anos." (Colby, 2005)

Ou seja, criacionistas geralmente se dizem céticos sobre o fato que as mutações possam servir de matérias-prima para a evolução, porque a maioria das que tem efeito fenotípico relevante são deletérias.Ora, se é assim, então porque não explicam o fato que regiões do genoma com taxas de evolução bem elevadas podem sofrer mutações constantemente sem comprometer o funcionamento de "DNAs funcionais"?

No post anterior a este ("Mais uma bobagem do Criacionismo Ufológico"), eu expliquei de forma muito resumida porque a existência de "matéria escura" no genoma não é uma surpresa para a teoria da evolução.

Embora o acaso possa fixar esses DNAs não-codificadores sem grande prejuízo imediato para o organismo (se fosse um prejuízo total, mecanismos evoluriam para removê-lo), fiquem sabendo que ele não é um almoço grátis, pelo menos no que se referem aos íntrons (uma classe peculiar de sequência não-codificadora).Vejam o que diz o que diz este professor de Genética Humana:


"Manter íntrons é um hábito caro.Uma grande proporção da energia que gastamos todo dia é dedicada a manutenção e ao reparo dos íntrons na forma de DNA, a transcrição do pré-RNA e a remoção dos íntrons, e até sua ruptura final da reação de splicing.Além disso, o sistema pode causar equívocos com consequências graves.Cada erro no corte e ligação do pré-RNA leva a uma alteração na sequência de proteína da transcrição do gene, e possivelmente a síntese de uma proteína defeituosa." (Ast,2005)


Para entender os termos que Ast escreveu, é preciso contar uma longa história.Fazendo a analogia do DNA como sendo um livro, os capítulos sem significado , inseridos em intervalos dos textos (chamados íntrons) não são trancritos para o RNA mensageiro maduro, porque sofrem um processo de edição através do Splicing (processo de corte-e-ligação), sendo preservados os éxons, (capítulos com sentido) na transcrição inicial.Mas depois de estudos do Projeto Genoma, está claro que que essas regras nem sempre se aplicam.Em organismos complexos, a transcrição inicial pode sofrer splicing alternativo-os éxons podem ser descartados e os íntrons removidos-para produzir inúmeros RNAs mensageiros, e portanto proteínas diferentes. O ser humano produz 90 mil tipos diferentes de proteínas com uma variabilidade genética menor que a do milho!!! São míseros 25 mil genes ( contra 40 mil do milho). Ou seja, o splicing alternativo era mais comum do que se imaginava, e com isso se esteleceu um novo conceito genético : "um gene, muitas proteínas".Agora, poderia-se perguntar.Porque a evolução preservou um sistema tão complicado e que pode causar doenças?Simples.Porque o benefício de codificar mais de uma proteína com um único gene supera o prejuízo da exclusão de um éxon e o gasto de energia para manter os íntrons.Em alguns casos, o splicing alternativo tem o potencial de criar proteínas especiais para determinadas espécies, que podem ser responsáveis pela diferenciação entre elas.A versatilidade no genoma não é evidência de projeto inteligente e sim de oportunismo molecular evolutivo.Planejamento inteligente seria se as proteínas especiais já estivessem lá sem necessitar de splicing alternativo (que segundo Ast é mecanismo perigoso e que pode ser responsável por doenças).

Claro, o DNA não-codificante é muito maior que qualquer pessoa pode imaginar (representa mais de 95% do genoma).Isso implica que mesmo se considerarmos a utilização íntrons para a posibilidade do funcionamento do splicing alternativo, ainda assim a grande quantidade de DNA não-codificante ainda parece desnecessária.Além da grande quatidade de íntrons, em alguns casos em se tratando de genes repetitivos há também espaçadores não transcritos ou ainda espaçadores intergênicos.

Outra coisa, uma pergunta interessante foi abordada por Ronaldo Cordeiro, da Comissão de Biologia - FCB, em um debate com ocriacionista Alexandre Gonçalves:


"Por exemplo, sabia que os mamíferos sintetizam sua própria vitamina C, e portanto não precisam dela na alimentação, porque possuem um gene para a produção da enzima que a sintetiza? Descobriram que o homem também possui esse gene, só que ele não funciona porque alguma mutação deletou dele um único par de bases. Um criacionista talvez pudesse sugerir que Deus teria criado o homem com esse gene perfeito, mas que o pecado teria causado esse dano, não é mesmo? Então como explicar que o chimpanzé tenha essa mesma mutação nesse mesmo gene nessa mesma posição?"

Link: http://www.str.com.br/Debate/debate0102e.htm



Referências:

Ast,G.(2005).Genoma Alternativo.Scientific American Brasil.Ano 3, Nº 36,maio de 2005.

Colby, C. (2005) Introdução à Biologia Evolutiva. Projeto Evoluindo - Biociência.org. Trad.: Danniel Soares Costa. [http://www.evoluindo.biociencia.org/evidenciamacro.htm]

Nóbrega, Marcelo A., Yiwen Zhu, Ingrid Plajzer-Frick, Veena Afzal and Edward M. Rubin (2004). Megabase deletions of gene deserts result in viable mice. Nature 431: 988-993.

Mais uma bobagem do Criacionismo Ufológico

Cientistas descobrem genes extraterrestres em DNA humano

Existiriam civilizações de seres humanos avançados espalhadas pelas galáxias?

Um grupo de pesquisadores trabalhando no Projeto Genoma Humano fez uma descoberta impressionante.

Eles acreditam que 97% do DNA humano que são formados, pelas assim chamadas, "seqüências não-codificadas" são nada menos que códigos genéticos de formas de vida extraterrestres.

As seqüências não-codificadas são comuns em todos os organismos vivos da Terra, de células à peixes à humanos. Elas constituem grande parte do DNA humano, diz o professor Sam Chang, líder do grupo.

As seqüências não-codificadas, originalmente conhecidas como "DNA-LIXO", foram descobertas anos atrás e sua função permanece um mistério. A esmagadora maioria do DNA humano vem de fora do nosso planeta. Esses evidentes "genes-lixo extraterrestres" simplesmente "curtem o passeio" com os outros genes ativos, passando de geração à geração.

Depois de abrangentes análises com a assistência de outros cientistas como programadores, matemáticos e outros sábios acadêmicos, o professor Chang se perguntou se o evidente DNA-LIXO humano foi criado por algum tipo de "programador extraterrestre". "As cadeias alienígenas dentro do DNA humano tem suas próprias veias, artérias e seu próprio sistema imunológico que resiste vigorosamente à todos os tipos de drogas anti-câncer conhecidos", observa o professor Chang.

O professor Chang estipula também que "Nossa hipótese é que uma forma de vida extraterrestre superior se ocupou de criar novas formas de vida e de plantá-las em vários planetas. A Terra é apenas um deles. Talvez, após programar-nos, nossos criadores se ocuparam de criar-nos como criamos bactérias em laboratórios. Nós não sabemos seus motivos, se era para ser um experimento científico, ou um jeito de preparar novos planetas para a colonização, ou se é um trabalho de longo prazo de semeação de vida no universo".

Chang, além disso, ressalta que "Se nós pensarmos nisso em termos humanos, os supostos "programadores extraterrestres" provavelmente estavam trabalhando em "um grande código" consistente de vários projetos, e esses projetos devem ter produzido várias formas de vida para vários planetas. Eles também devem ter tentado várias soluções. Eles escreveram "o grande código", executaram-no, não gostaram de algumas funções, mudaram-no ou adicionaram novas funções, executaram-no novamente, fizeram melhorias, tentaram novamente e novamente".

Além disso, o time de pesquisadores do professor Chang conclui que "Os "programadores extraterrestres" talvez tenham sido ordenados a excluir todos os seus planos idealísticos para o futuro quando se concentraram no "projeto Terra" a fim de terminá-lo no prazo adequado. Provavelmente com pressa os "programadores extraterrestres" cortaram drasticamente o "grande código" e o entregaram somente com as características básicas planejadas para a Terra.

Chang é somente um de vários cientistas e outros pesquisadores que descobriram origens extraterrestres para a Humanidade.

Chang e seus colegas mostram que as aparentes lacunas no sequenciamento do DNA, precipitadas por uma suposta pressa em criar a vida humana, presenteou a raça humana com o ilógico crescimento desordenado de células que conhecemos por câncer.

O professor Chang ainda aponta que "o que vemos em nosso DNA é um programa consistindo de duas versões, um código básico e um grande código". Chang então afirma que "o primeiro fato é que o programa completo absolutamente não foi escrito na Terra, isto é um fato confirmado. O segundo fato é que os genes, por si sós, não são suficientes para explicar a evolução, deve haver algo mais "no jogo".

"Cedo ou tarde", diz Chang, "nós teremos que enfrentar a inacreditável idéia de que toda a vida na Terra carrega códigos genéticos de nossos "primos extraterrestres" e que a evolução não se deu do jeito que pensávamos".
Autor: John Stokes

Fonte: IG Educação

Crédito da foto: Banco de Dados

Fonte: http://www.ufo.com.br/index.php?arquivo=notComp.php&id=2551





COMENTÁRIOS:

Só digo uma coisa sobre isso: FAKE.Nunca vi essa notícia numa fonte confiável.Além disso, o artigo traz erros científicos grotescos.Não é verdade que todas as sequências não-codificadoras do DNA são lixo ou que sua função permanece um mistério.Hoje em dia, sabe-se que algumas vezes elas estão envolvidas na regulação do gene.E a explicação é muito simples para outros casos.Existem parasitas genômicos no DNA chamados de transpósons.Eles são genes, ou uma porção do DNA , que nunca é transcrita.Eles podem se mover para novas posições no cromossomo, deixando uma cópia para trás, e aumentando seu número no genoma.Se esses parasitas começassem a proliferar de modo que produzissem problemas, a seleção natural os removeria.É claro que existisse muito do DNA sem função conhecida, mas a questão é que se algo não afeta a sobrevivência dos organismos, então mutações inúteis podem acumular sem problemas.

De resto, existem outras bobagens ditas nesta "reportagem" que nem merecem comentários.O incrível é que esses ufólogos do site UFO não percebem o mico que estão pagando em postar "notícias" como essa.Estão enterrando de vez o pouco de credibilidade que ainda sobram neles.

Monday, January 22, 2007

Collins:"Ciência não exclui Deus"

Muitas vezes algumas pessoas religiosas afirmam que possuem motivos pessoais para negar a teoria da evolução de Darwin. Gostaria de apresentar um trecho de um livro criacionista chamado “E Disse Deus” (Shalom Publicações,p.87) de Farid Abou-Rahme.Assim, ele se referia assim ao evolucionismo teísta:

“Por um outro lado, sendo cristãos, podemos aceitar um Deus tão incapaz, incompetente? Imagine por um momento: Deus cria a primeira célula e depois sai de cena e espera milhões de anos para execução do processo de mutações! Então, surge o trilobita! Espera-se mais de 200 milhões de anos, e surge o sapo! Ótimo! E assim sucessivamente até o homem ‘evoluir’ depois de milhões de anos de lutas, sofrimentos, mortes e sobrevivência dos mais fortes”.

Percebam o equívoco da citação acima.Com ou sem Deus, existem lutas, sofrimentos e mortes.O autor deste livro simplesmente não queria que a interpretação literal bíblica fosse
negada pela ciência.Ele deve ter pensado "Tudo bem que houvesse lutas, sofrimentos e mortes, desde que tudo isso ocorresse depois que Adão cometeu o primeiro pecado."Eu já li todo esse livro e sei o que estou dizendo.

Outra coisa, quando se fala em "teoria da evolução de Darwin" está se referindo ao paradigma composto por 5 teorias principais:evolução como tal, descendência comum, especiação, gradualismo e seleção natural.Obviamente, é possível ter uma visão religiosa sobre a origem das espécies e ainda assim acreditar nas quatro primeiras teses.Elas são teorias amecanísticas, ou seja, nada dizem sobre como a evolução ocorreu.Embora haja polêmica sobre a quinta tese negar uma visão não-mecanicista da natureza, eu vejo como algo claro que a seleção natural nada diz a respeito de Deus, deuses ou projetos inteligentes.Como seria possível criar uma teoria que evidenciasse de forma positiva a ausência Deus, deuses ou projetos inteligentes?Enquanto, essa pergunta for respondida com um silêncio, então não vejo motivo para tanta preocupação entre as pessoas religiosas.

Existe uma outra tática antievolucionista, que é o apelo emocional, algo como "Você está querendo nos dizer que somos frutos da casualidade?".Essa argumentação se refere ao fato de os cientistas só buscarem respostas através de uma visão mecanicista da natureza.
Obviamente, essas pessoas não se lembram que foi de um cristão ardoroso que saiu a idéia que a Lua gira incessantemente em torno da Terra devido a existência de uma força natural universal.Parece que estas pessoas não vêem problemas quando as leis e mecanismos são vistas como causas suficientes para descrever fenômenos que envolvem corpos sem vida.

É óbvio que nem todas as pessoas religiosas são assim.Um exemplo óbvio disso vem de Francis Collins, diretor do Projeto Genoma.Vejam a matéria da Veja e a sua entrevista com o biólogo americano nas páginas amarelas que evidenciam isso:


Ciência não exclui Deus


O biólogo que desvendou o genoma humano explica por que é possível aceitar as teorias de Darwin e ao mesmo tempo manter a fé religiosa O biólogo americano Francis Collins é um dos cientistas mais notáveis da atualidade. Diretor do Projeto Genoma, bancado pelo governo americano, foi um dos responsáveis por um feito espetacular da ciência moderna: o mapeamento do DNA humano, em 2001. Desde então, tornou-se o cientista que mais rastreou genes com vistas ao tratamento de doenças em todo o mundo. Collins também é conhecido por pertencer a uma estirpe rara, a dos cientistas cujo compromisso com a investigação do mundo natural não impede a profissão da fé religiosa. Alvo de críticas de seus colegas, cuja maioria nega a existência de Deus, Collins decidiu reagir. Ele lançou há pouco nos Estados Unidos o livro The Language of God (A Linguagem de Deus). Nas 300 páginas da obra, o biólogo conta como deixou de ser ateu para se tornar cristão aos 27 anos e narra as dificuldades que enfrentou no meio acadêmico ao revelar sua fé. "As sociedades precisam tanto da ciência como da religião. Elas não são incompatíveis, mas complementares", explica o cientista. A seguir, a entrevista de Collins a VEJA:

Veja – No livro A Linguagem de Deus, o senhor conta que era um "ateu insolente" e, depois, se converteu ao cristianismo. O que o fez mudar suas convicções?

Francis Collins – Houve um período em minha vida em que era conveniente não acreditar em Deus. Eu era jovem, e a física, a química e a matemática pareciam ter todas as respostas para os mistérios da vida. Reduzir tudo a equações era uma forma de exercer total controle sobre meu mundo. Percebi que a ciência não substitui a religião quando ingressei na faculdade de medicina. Vi pessoas sofrendo de males terríveis. Uma delas, depois de me contar sobre sua fé e como conseguia forças para lutar contra a doença, perguntou-me em que eu acreditava. Disse a ela que não acreditava em nada. Pareceu-me uma resposta vaga, uma frase feita de um cientista ingênuo que se achava capaz de tirar conclusões sobre um assunto tão profundo e negar a evidência de que existe algo maior do que equações. Eu tinha 27 anos. Não passava de um rapaz insolente. Estava negando a possibilidade de haver algo capaz de explicar questões para as quais nunca encontramos respostas, mas que movem o mundo e fazem as pessoas superar desafios.

Veja – Que questões são essas para as quais não encontramos respostas?

Collins – Falo de questões filosóficas que transcendem a ciência, que fazem parte da existência humana. Os cientistas que se dizem ateus têm uma visão empobrecida sobre perguntas que todos nós, seres humanos, nos fazemos todos os dias. "O que acontece depois da morte?" ou "Qual é o motivo de eu estar aqui?". Não é certo negar aos seres humanos o direito de acreditar que a vida não é um simples episódio da natureza, explicado cientificamente e sem um sentido maior. Esse lado filosófico da fé, na minha opinião, é uma das facetas mais importantes da religião. A busca por Deus sempre esteve presente na história e foi necessária para o progresso. Civilizações que tentaram suprimir a fé e justificar a vida exclusivamente por meio da ciência – como, recentemente, a União Soviética de Stalin e a China de Mao – falharam. Precisamos da ciência para entender o mundo e usar esse conhecimento para melhorar as condições humanas. Mas a ciência deve permanecer em silêncio nos assuntos espirituais.

Veja – A maioria dos cientistas argumenta que a crença em Deus é irracional e incompatível com as descobertas científicas. O zoólogo Richard Dawkins, com quem o senhor trava um embate filosófico sobre o tema, diz que a religião é a válvula de escape do homem, o vírus da mente. Como o senhor responde a isso?

Collins – Essa perspectiva de Dawkins é cheia de presunção. Eu acredito que o ateísmo é a mais irracional das escolhas. Os cientistas ateus, que acreditam apenas na teoria da evolução e negam todo o resto, sofrem de excesso de confiança. Na visão desses cientistas, hoje adquirimos tanta sabedoria a respeito da evolução e de como a vida se formou que simplesmente não precisamos mais de Deus. O que deve ficar claro é que as sociedades necessitam tanto da religião como da ciência. Elas não são incompatíveis, mas sim complementares. A ciência investiga o mundo natural. Deus pertence a outra esfera. Deus está fora do mundo natural. Usar as ferramentas da ciência para discutir religião é uma atitude imprópria e equivocada. No ano passado foram lançados vários livros de cientistas renomados, como Dawkins, Daniel Dennett e Sam Harris, que atacam a religião sem nenhum propósito. É uma ofensa àqueles que têm fé e respeitam a ciência. Em vez de blasfemarem, esses cientistas deveriam trabalhar para elucidar os mistérios que ainda existem. É o que nos cabe.

Veja – O senhor afirma que as sociedades precisam da religião, mas como justificar as barbaridades cometidas em nome de Deus através da história?

Collins – Apesar de tudo o que já aconteceu, coisas maravilhosas foram feitas em nome da religião. Pense em Madre Teresa de Calcutá ou em William Wilberforce, o cristão inglês que passou a vida lutando contra a escravatura. O problema é que a água pura da fé religiosa circula nas veias defeituosas e enferrujadas dos seres humanos, o que às vezes a torna turva. Isso não significa que os princípios estejam errados, apenas que determinadas pessoas usam esses princípios de forma inadequada para justificar suas ações. A religião é um veículo da fé – essa, sim, imprescindível para a humanidade.

Veja – O senhor diz que a ciência e a religião convergem, mas devem ser tratadas separadamente. Como vê o movimento do "design inteligente", em que cientistas usam a religião para explicar fatos da natureza que permanecem um mistério para a ciência?

Collins – Essa abordagem é um grande erro. Os cientistas não podem cair na armadilha a que chamo de "lacuna divina". Lamento que o movimento do design inteligente tenha caído nessa cilada ao usar o argumento de que a evolução não explica estruturas tão complicadas como as células ou o olho humano. É dever de todos os cientistas, inclusive dos que têm fé, tentar encontrar explicações racionais para tudo o que existe. Todos os sistemas complexos citados pelo design inteligente – o mais citado é o "bacterial flagellum", um pequeno motor externo que permite à bactéria se mover nos líquidos – são um conjunto de trinta proteínas. Podemos juntar artificialmente essas trinta proteínas, que nada vai acontecer. Isso porque esses mecanismos se formaram gradualmente através do recrutamento de outros componentes. No curso de longos períodos de tempo, as máquinas moleculares se desenvolveram por meio do processo que Darwin vislumbrou, ou seja, a evolução.

Veja – Qual a sua leitura da Bíblia?

Collins – Santo Agostinho, no ano 400, alertou para o perigo de se achar que a interpretação que cada um de nós dá à Bíblia é a única correta, mas a advertência foi logo esquecida. Agostinho já dizia que não há como saber exatamente o que significam os seis dias da criação. Um exemplo de que uma interpretação unilateral da Bíblia é equivocada é que há duas histórias sobre a criação no livro do Gênesis 1 e 2 – e elas são discordantes. Isso deixa claro que esses textos não foram concebidos como um livro científico, mas para nos ensinar sobre a natureza divina e nossa relação com Ele. Muitas pessoas que crêem em Deus foram levadas a acreditar que, se não levarmos ao pé da letra todas as passagens da Bíblia, perderemos nossa fé e deixaremos de acreditar que Cristo morreu e ressuscitou. Mas ninguém pode afirmar que a Terra tem menos de 10 000 anos a não ser que se rejeitem todas as descobertas fundamentais da geologia, da cosmologia, da física, da química e da biologia. Veja – O senhor acredita na Ressurreição? Collins – Sim. Também acredito na Virgem Maria e em milagres.

Veja – Não é uma contradição que um cientista acredite em dogmas e milagres?

Collins – A questão dos milagres está relacionada à forma como se acredita em Deus. Se uma pessoa crê e reconhece que Ele estabeleceu as leis da natureza e está pelo menos em parte fora dessa natureza, então é totalmente aceitável que esse Deus seja capaz de intervir no mundo natural. Isso pode aparecer como um milagre, que seria uma suspensão temporária ou um adiamento das leis que Deus criou. Eu não acredito que Deus faça isso com freqüência – nunca testemunhei algo que possa classificar como um milagre. Se Deus quis mandar uma mensagem para este mundo na figura de seu filho, por meio da Ressurreição e da Virgem Maria, e a isso chamam milagre, não vejo motivo para colocar esses dogmas como um desafio para a ciência. Quem é cristão acredita nesses dogmas – ou então não é cristão. Faz parte do jogo.

Veja – É possível acreditar nas teorias de Darwin e em Deus ao mesmo tempo? Collins – Com certeza.

Se no começo dos tempos Deus escolheu usar o mecanismo da evolução para criar a diversidade de vida que existe no planeta, para produzir criaturas que à sua imagem tenham livre-arbítrio, alma e capacidade de discernir entre o bem e o mal, quem somos nós para dizer que ele não deveria ter criado o mundo dessa forma?

Veja – Alguns cientistas afirmam que a religião e certas características ligadas à crença em Deus, como o altruísmo, são ferramentas inerentes ao ser humano para garantir a evolução e a sobrevivência. O senhor concorda?

Collins – Esses argumentos podem parecer plausíveis, mas não há provas de que o altruísmo seja uma característica do ser humano que permite sua sobrevivência e seu progresso, como sugerem os evolucionistas. Eles querem justificar tudo por meio da ciência, e isso acaba sendo usado para difundir o ateísmo.

Veja – Mas o altruísmo é visto hoje pela genética do comportamento como uma característica herdada pelos genes, assim como a inteligência. O senhor, como geneticista, discorda da genética comportamental?

Collins – Há muitas teorias interessantes nessa área, mas são insuficientes para explicar os nobres atos altruístas que admiramos. O recado da evolução para cada um de nós é propagar o nosso DNA e tudo o que está contido nele. É a nossa missão no planeta. Mas não é assim, de forma tão lógica, que entendo o mundo, muito menos o altruísmo e a religiosidade. Penso em Oskar Schindler, que se sacrificou por um longo período para salvar judeus, e não pessoas de sua própria fé. Por que coisas desse tipo acontecem? Se estou caminhando à beira de um rio, vejo uma pessoa se afogar e decido ajudá-la mesmo pondo em risco a minha vida, de onde vem esse impulso? Nada na teoria da evolução pode explicar a noção de certo e errado, a moral, que parece ser exclusiva da espécie humana.

Veja – Muitas religiões são contrárias ao uso de técnicas científicas que poderiam salvar vidas, como a do uso de células-tronco. Como o senhor se posiciona nessa polêmica?

Collins – Temos de ser sensíveis e respeitar as diferentes religiões no que diz respeito aos avanços científicos. Mas interromper as pesquisas científicas ou impedir que uma pessoa com uma doença terrível tenha uma vida melhor só porque a religião não aceita determinado tratamento é antiético. Por outro lado, existem fronteiras que a ciência não deve transpor, como a clonagem humana, que além de tudo não serviria para nada a não ser para nos repugnar. Cada caso tem de ser avaliado isoladamente.

Veja – Os geneticistas são muitas vezes acusados de brincar de Deus. Como o senhor encara essas críticas?

Collins – Se todos brincássemos de Deus como Deus gostaria, com esperança e amor, ninguém se abateria muito com comentários do gênero. Mas somos seres humanos e temos propensão ao egoísmo e aos julgamentos equivocados. O importante é não reagir de forma exagerada à perspectiva de que as pessoas possam vir a fazer mau uso das descobertas da genética, mas sim focar o lado bom dessa "brincadeira". A maior parte das pesquisas genéticas busca a cura de doenças como câncer, problemas cardíacos, esquizofrenia. São objetivos louváveis. Para evitar o uso impróprio da ciência, o Projeto Genoma Humano apóia um programa que visa a preservar a ética nas pesquisas genéticas e certificar-se de que todas as nossas descobertas beneficiarão as pessoas e a sociedade.

Veja – O que esperar das pesquisas genéticas no futuro?

Collins – Nos próximos dois ou três anos vamos descobrir os fatores genéticos que criam a propensão ao câncer, ao diabetes e às doenças cardiovasculares. Isso possibilitará que as pessoas saibam que provavelmente vão desenvolver esses males e tomem medidas preventivas contra eles, com a ajuda do médico. Mais à frente, as descobertas das relações entre o genoma e as doenças farão com que os tratamentos e os remédios sejam personalizados, tornando-os mais eficientes e com menos efeitos colaterais.

Veja – O senhor acredita que Deus ouve suas preces e as atende?

Collins – Eu nunca ouvi Deus falar. Algumas pessoas ouviram. Não acredito que rezar seja um caminho para manipular as intenções de Deus. Rezar é uma forma de entrarmos em contato com Ele. Nesse processo, aprendemos coisas sobre nós mesmos e sobre nossas motivações.

Friday, January 19, 2007

"Mecanismo neodarwinista":mais que mutações e seleção natural

A impressão que se tem é que alguns críticos da evolução imaginam que o neodarwinismo postula que a macroevolução só procede através de mutações e seleção natural.Obviamente, eles não sabem que a lista de mecanismos evolutivos é bem ampla:

1-Mutação genética (incluindo aí a alteração cromossômica)

2-Seleção natural (incluindo aí a seleção natural sobre a plasticidade fenotípica)

3-Recombinação gênica (cria novas combinações de alelos e até novos alelos)

4-Fluxo genético (incluindo aí transferência gênica horizontal)

5-Fusão simbiótica (que explica a existência de mitocôndrias

6- Mudanças na organização espacial de tipos celulares que está em desenvolvimento, no tempo durante o qual o tecido e os tipos celulares e tecidos se diferenciam ou na forma geométrica dos órgãos.

7-Deriva genética

O interessante é que nem todas as características existentes nos organismos são refletidas no seu genótipo.A maioria das alterações morfológicas não envolvem evolução de proteínas novas, mas a atuação do mecanismo 6. E o engraçado disso tudo é que isso é algo dito num livro de um neodarwinista (Douglas Futuyma na 2ª edição de Biologia Evolutiva ) em 1986.

Outra coisa, quando um genótipo tem a capacidade de produzir diversos fenótipos chamamos de resposta plástica.Muitas vezes, essas respostas plásticas são adaptações num sentido que uma alteração no fenótipo ocorre em resposta a um sinal ambiental específico e melhora o sucesso reprodutivo.É verdade que muitas vezes existe dificuldade de saber quanto de uma respsta plástica é adaptativa, porque ela também pode ser uma consequência natural de processos biológicos,físicos e químicos que podem ter ocorrido independentemente da evolução ter adaptado uma população as condições nas quais elas se encontram. Hoje em dia, existem testes experimentais que determinam o quanto de uma resposta plástica é adaptativa.Um exemplo que citei no primeiro artigo de meu blog, foi a maneira como os sapos extendem seu período larval em resposta a temperatura (parte disso é adaptativo, parte não é).Como estou com preguiça de descrever o caso, vejam Evolução:Uma Introdução de Stephen Stearns e Rolf Hoekstra (Atheneu Editora São Paulo,p.121,122).

Apesar disso, não pensem que esta confusão de acreditar que tudo que não é acumulo de mutações e seleção natural é antineodarwinismo ocorre só entre leigos.A crítica mais confusa do neodarwinismo que já vi é Lynn Margulis.Ela é uma bióloga que se auto-intitula uma darwinista e que se opõe parcialmente à síntese moderna porque sua opinião difere em relação ao último em relação a origem da variação genética ( The Woodstock of Evolution).Também propôs a Teoria Evolutiva da Simbiogênese que segundo a qual seria uma idéia antidarwinista em que “a vida não conquistou o globo pelo combate, mas por um entrelaçamento”. Lynn Margulis pensa que a maioria dos eventos de especiação são causados por mudanças em simbiontes internos.Um exemplo de uma evolução surgida por esse mecanismo são as organelas que realizam a fotossíntese nas plantas- os cloroplastos- originaram-se como bactérias de vida independente aparentadas às cianobactérias que foram engolidas por proto-eucariotos e eventualmente entraram numa relação endossimbiótica.O mesmo ocorreu com as mitocôndrias que realizam a nossa respiração celular, e nós até hoje temos esse DNA independente, chamado DNA mitocondrial, que é mais parecido com os das bactérias roxas que as nossas. A simbiose não ocorre só em organelas.Por exemplo, existem micróbios que fazem completamente a digestão de uma espécie de inseto ou bactérias que geram luz para peixes.

Na verdade, a evolução não prediz o eterno combate e sim o egoísmo entre os organismos.Entretanto, Margulis postula uma falsa dicotomia entre cooperação e egoísmo.A relação de endosimbiose ocorreu na evolução da célula eucariótica simplesmente porque isso também foi bom para o parasita-esse é o caso onde há transferência longitudinal de DNA.Algo que não aconteceria em parasitas com transferência horizontal de DNA, como o vírus da gripe.Ainda segunda ela, não seria acúmulo de mutações não seria crucial na origem de novas espécies e que a simbiose seria o principal mecanismo para isso.Entretanto, Mayr menciona que não há indicação que alguma das 10.000 espécies de aves ou 4.500 espécies de mamíferos foram originadas por simbiogênese.Este é um ótimo link, onde isso e mais um pouco é analisado: A visionary scientist with a blind spot . A melhor definição para Lynn Margulis é que ela é uma ultra-neutralista e uma ultra-confusa.

Monday, January 15, 2007

Big Bang e Termodinâmica

Criacionistas costumam argumentar que a evolução biológica viola as duas leis da Termodinâmica.Um excelente artigo de Marcus Valário XR (autor do site Evolução Biológica, http://www.evo.bio.br/) , mostra porque eles estão equivocados: http://www.evo.bio.br/LAYOUT/termo.html

Entretanto, Marcus Valério XR explica de forma errada porque o Big Bang (assim como as teorias de origem do Universo) não viola as duas leis termodinâmicas.Pensando nisso, enviei uma mensagem ao seu livro de mensagens.Vejam o conteúdo:
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Olá, Marcus.

Queria vim aqui fazer alguns comentários sobre o artigo “A Acalorada Questão Termodinâmica”.Vou fazer uma análise-crítica deste texto.Usei como base “O Tecido do Cosmo” (Cia das Letras) de Brian Greene e “O Universo Numa Casca de Noz” de Stephen Hawking (Editora ARX) e também um texto do engenheiro mecânico Nelson Magrini posto num fórum (http://www.rv.cnt.br/viewtopic.php?t=958&start=0) .Só depois de ter adquirido um conhecimento mais aprofundado sobre Cosmologia, me senti com capacidade de fazer isso.

Você diz: “E o que a Teoria do Big Bang faz é afirmar que a matéria sempre existiu, ainda que totalmente condensada num único Super Átomo. O que havia antes do Big Bang não é objeto de estudo da Ciência. (...) O Primeiro Princípio declara indiretamente que a matéria e energia do Universo sempre existiram e sempre existirão, afinal nada pode ser criado ou destruído. Portanto, o Universo seria Eterno”

Errado, um Universo que fosse Eterno teria acumulado Entropia infinita, o que é um absurdo!E não é verdade que, segundo o Big Bang, a matéria sempre existiu.Segundo a versão mais aceita dela (Teoria do Universo Inflacionário), a existência da matéria no Universo teve um começo bem definido.Por incrível que pareça, é amplamente aceito entre os cosmólogos que isso pode ocorrer sem violar qualquer Lei Termodinâmica!

A existência do Universo está correlacionada a existência de um campo escalar que até hoje interage com o nosso Universo, o campo de Higgs.O tipo particular de campo de Higgs que inflou o Universo é chamado campo de inflaton.Uma característica peculiar deste campo é que sua pressão é negativa (a diferença entre pressão negativa e positiva gera uma força: repulsiva, quando a pressão negativa é maior e atrativa quando a pressão positiva é maior), a força que ele gera é cumulativa e se assemelha um pouco a constante cosmológica que Einstein encontrou em suas equações, com a diferença que seu valor é 10 elevado a 120 mais elevado.Outra coisa, nós não notamos a força que esse campo gera porque ela é desprezível para corpos relativamente próximos um do outro (como o Sol e a Terra), sendo significativa para galáxias que estão a bilhões de anos luz umas das outras.

Quando este campo atingiu um valor arbitrário e de forma uniforme num recanto do espaço, então se gerou uma pressão negativa que fez o espaço-tempo explodir. Ainda segundo esta teoria, a matéria e a radiação foram produzidas ao fim da expansão inflacionária acelerada (que durou 10 elevado a –35 segundos), quando a energia acumulada pelo campo do inflaton foi liberada em razão de ele ter caído da superfície mais alta para o fundo da bacia de energia potencial.A questão é que o campo de inflaton é um parasita gravitacional-ou seja, a matéria e a energia por elas transportadas aumentam com a expansão do espaço (quando o Universo se expande, a matéria e a radiação transferem energia para gravidade e o campo de inflaton adquire energia a partir da gravidade).No Universo primordial, a análise matemática revela que a densidade de energia permaneceu constante durante toda a era inflacionária.Como o Universo se expandiu a um fator de 10 elevado a 30, isso quer dizer que o volume do espaço por ele preenchido se expandiu a um fator de 10 elevado a 90.Conseqüentemente, a energia se multiplicou por esse mesmo enorme fator.O campo de inflaton não precisaria de uma quantidade enorme de energia para produzir a estupenda quantidade de massa/energia observada hoje, já que a expansão que ele estava prestes a gerar aumentaria de forma considerável a quantidade de energia por ele transportada.Cálculos simples revelam que um grão com diâmetro de 10 elevado a –26 cm e pesando 10 quilos, permeado por um campo de inflaton uniforme seria capaz de gerar a estupenda quantidade de massa/energia existente hoje.

Como acontece com todos os Sistemas Quânticos Excitados, também o Falso Vácuo é instável e tende a decair.Quando a inflação cessou, a força de repulsão desapareceu e a gravidade comum passou a superar a repulsiva (observando dados de recessão das supernovas, cientistas concluíram que até 7 bilhões de anos atrás, a expansão foi desacelerada e voltou a se a acelerar depois disso). O método descrito acima só se encerra através do super-resfriamento do campo de Higgs, algo que aconteceu nos instantes iniciais do Universo e é similar a uma Transição de Fase da água se transformando em gelo.Esse fenômeno se diferencia da Transição de Fase sob dois aspectos.Primeiro, a coisa que “congelou” foi o campo de Higgs, que se transformou na matéria/energia existente no Universo.Segundo, o Universo quente se resfriou e "congelou" a uma temperatura altíssima.

Aí chegamos ao que quero explicar: de onde veio a energia primordial do Universo?Segundo a teoria inflacionária, do Vácuo Quântico.Alguns perguntarão como o Vácuo adquiriu esta energia.A chave para responder isso é que o princípio de conservação de energia não se aplica em uma realidade quântica.Especialmente, os físicos de partículas sabem que a energia do vácuo pode flutuar de tal maneira que partículas virtuais podem ser criadas.Elas não podem ser vistas, mas deixam vestígios físicos que podem ser observados.Essas partículas “violam”, ainda que por um tempo infinitesimal, a Primeira Lei da Termodinâmica.Isso é um processo amplamente observado e demonstrado.Eis agora o porquê de se dizer que o Big Bang não viola o princípio da conservação de energia num sentido habitual.Acredita-se que o Universo começou com energia NULA.A energia potencial gravitacional de um campo gravitacional é uma energia negativa.Num contexto de Universo Inflacionário, a energia gravitacional negativa da matéria recém criada, compensaria o calor e a matéria criados, conservando NULA a Energia Total do Universo (Guth 1997: http://www.talkorigins.org/indexcc/CF/CF101.html) .À medida que o Universo se expande, ele retira energia do campo gravitacional para criar mais matéria.Como a energia positiva da matéria é exatamente contrabalançada pela energia negativa gravitacional, isso implica que, quando o Universo dobra, tanto a energia da matéria e quanto a gravitacional dobram; entretanto o dobro de zero continua sendo zero! (Hawking 2002, p.91).

Brian Greene defende que a teoria inflacionária é melhor vista como um evento que teve lugar num Universo pré-existente, não como a criação do Universo (apesar que ela resolve problemas que o modelo padrão do Big Bang não conseguia, como a incrível isotropia e planura do Universo e a enorme existência de massa/energia contida nele).Mas ele especula o que pode ter acontecido no Universo pré-inflacionário.O campo que dirige e gera a inflação é o campo de Higgs.Mostra-se, contudo, que para funcionar o cenário inflacionário necessitaria de um ajuste fino na física de partículas.Ele argumenta que, assim como uma máquina de caça-níqueis em que você joga mais cedo ou mais tarde apresentará a configuração de três ouros caso se espere tempo suficiente, mais cedo ou mais tarde uma flutuação do campo de inflaton apresentará valor correto e uniforme num grão mínimo (nem precisaria ser grande, bastaria ter 10 elevado a –26cm de diâmetro) num espaço turbulento e caótico onde o valor do campo de Higgs saltava para cima e para baixo aleatoriamente.Inúmeras flutuações do inflaton devem ter fracassado, assim como inúmeros apostadores de caça-níquel também fracassam diariamente.

Outro trecho que comentarei: “Por outro lado a Segunda Lei declara que, se sendo o Universo um sistema fechado, estaria em irreversível aumento de Entropia. Portanto a Entropia inicial do Universo deveria ser Mínima, apesar do Calor ser Máximo. Todavia a Terceira Lei coloca que a Entropia Mínima só é possível numa Temperatura Mínima. De fato esse questionamento é, filosoficamente, válido. E eu e vários filósofos concordamos plenamente com a existência de uma intervenção externa ao Universo conhecido”.

Brian Greene responde (p.204-207) cientificamente e sem nenhum esforço a esse questionamento “filosoficamente válido” e que depende de uma “intervenção externa”.Ora, como a entropia pode ser mínima numa situação de calor máximo?Embora uma massa de gás quente seja uma configuração de alta entropia quando a densidade é tão baixa que a gravidade não importa, deve se levar em conta que quando a gravidade é significativa (como no Universo primitivo), o efeito da entropia é diferente da situação onde a gravidade não importa.Uma massa quente de gás difusa com gravidade significativa inevitavelmente geraria uma força de atração em todos os pontos do espaço, levando a formação de aglomerados altamente ordenados e com baixa entropia.Mas a entropia total do sistema não diminui por causa disso.A diminuição da entropia em cada aglomerado é mais que compensado pelo aumento de entropia resultante do calor gerado pela compressão dos gases e pelo calor e luz liberados, quando os processos nucleares começam operar.

A inflação também não viola a Segunda Lei da Termodinâmica.Embora seja verdade que a entropia gravitacional diminui no processo que descrevi em um parágrafo anterior, isso foi compensado porque ao fim da expansão inflacionária foram produzidas 10 elevado a 80 partículas de matéria e radiação.Esse número enorme de partículas tem alto grau de entropia, mais que suficiente para que a Segunda Lei da Termodinâmica não fosse violada.

Para concluir, queria dizer que você me deixou curioso ao ter recorrido ao argumento "sem Universo=sem leis físicas". Analisando tudo o que eu disse e a opinião dos cosmólogos, você acha mesmo possível alguma explicação sobre a origem do Universo violar leis termodinâmicas?

Como surgiram as asas em morcegos

Como asas surgiram em Ratos e estes se tornaram Morcegos ?Morcegos são um dos mamíferos mais prósperos, um quinto de todas as espécies mamífero são morcegos. Eles são criaturas extremamente diversas, mas têm uma coisa em comum: têm asas e voam. Os cientistas sempre desejaram saber sobre como afinal os morcegos adquiriram asas e agora o campo relativamente novo da Biologia do Desenvolvimento Evolutivo, ou "evo devo", parece ter desvendado o enigma.

Karen Sears e Lee Niswander e seus colegas da University of Colorado Health Sciences Center em Aurora compararam as asas do fóssil mais antigo conhecido de morcego, um espécime de 50 milhões de anos que estava no American Museum of Natural History em Nova Iorque, com três outras espécies de morcegos extintos e 10 espécies de morcegos modernos. Eles acharam em todos os casos que a asa de morcego membranosa é apoiada pelos altamente alongados terceiro, quarto, e quintos dedos dianteiros do animal. O que os pegou de surpresa foi a descoberta de que o comprimento relativo destes três dígitos em relação ao tamanho de corpo mudou pouco ao longo do curso de evolução do morcego. Em outro palavras, as asas dos morcegos não parecem ter crescido gradualmente ao longo do tempo, elas evoluíram repentinamente.

Isto sugere que a evolução de asas de morcego não foi devida a mudanças nos genes dos ossos mas a uma mudança no gene que regula a expressão destes genes dos ossos. Para achar qual gene poderia estar envolvido a equipe monitorou o desenvolvimento do embrião do morcego e comparou este desenvolvimento ao desenvolvimento do embrião de rato.

Eles encontraram que durante seu desenvolvimento inicial, tanto os dedos dianteiros dos morcegos quanto dos ratos cresceram na mesma taxa relativamente aos seus períodos de gestação de 120 e 20 dias, respectivamente. Porém, aproximadamente no meio da gestação, o terçeiro, quarto, e quintos dígitos de forelimb do morcego de repente começaram a crescer muito mais rápido. Na imagem podemos ver que, a 80 dias, os três dedos dianteiros que apoiarão a asa do morcego eventualmente já começaram a se prolongar significativamente. Por outro lado, os mesmos dedos no rato continuaram crescendo lentamente, assim como os dedos traseiros do morcego.

Esta observação levou os cientistas a considerarem que o crescimento súbito pode ser devido a um gene que codificou uma certa proteína (chamada de Bmp2) responsável pelo crescimento do osso. Eles acharam que a expressão deste gene realmente era 30% mais alta no forelimbs em desenvolvimento de morcegos do que em ratos. Isto indicou que provavelmente o aparecimento das difrenças entre morcegos e rato era uma mutação no gene que regula o gene Bmp2. Esta mutação que provavelmente aconteceu ao redor 50 milhões de anos atrás causou um crescimento anormal dos dedos dianteiros. Mas estes morcegos primitivos em vez de sucumbir a tal infortúnio e se extinguir provaram poder se adaptar. Eles começaram a usar os dedos de superdesenvolvido como asas, e eventualmente se tornaram alguns dos mamíferos mais prósperos em Terra."

http://www.yourskinandsun.com/batflight.html

O paper original da pesquisa, com acesso free, em: http://www.pnas.org/cgi/content/figsonly/103/17/6581



Comentários:

Antievolucionistas adoravam alardear que morcegos apareciam abruptamente no registro fóssil.Agora, sabemos que muitas transições rato-morcego realmente não ocorreram.Agora. a aparição de morcegos pode ser explicada como um evento rápido em tempo geológico, e ainda assim, geneticamente gradual.Ponto para Stephen Jay Gould e a sua Teoria do Equilíbrio Pontuado.Há muito tempo se sabe que esse padrão de evolução é regra e não exceção.